Título: Eletrobrás planeja ampliar base de acionistas
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Empresas, p. B3

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o novo presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz, afinaram os discursos ontem ao rechaçar a estatização no setor elétrico brasileiro e ao garantir que as empresas que integram a holding não participarão do leilão de privatização da Cesp. Ambos garantiram que a estatal será parceira, e não concorrente, da iniciativa privada. Muniz frisou ainda que o fortalecimento da Eletrobrás passa inclusive por uma emissão de ações, com os objetivos de aumentar a participação dos minoritários no capital da empresa e tentar elevar o valor de mercado da holding.

Muniz explicou que o plano de lançamento de novas ações para minoritários no mercado ainda não tem data para acontecer, mas uma proposta deve ser apresentada para o Conselho de Administração da companhia na reunião de maio. "Cheguei agora, não tenho idéia do tamanho da operação e nem de quanto do capital poderá ser vendido. Temos amarras que fizeram a empresa perder valor de mercado e temos que tentar aumentar este valor", frisou Muniz, que tomou posse ontem, no Rio.

Uma preocupação do ministro Lobão e do novo presidente da estatal foi afastar a idéia de uma possível estatização de companhias do setor. "O Brasil não está interessado na estatização, está estimulando a iniciativa privada. A Eletrobrás não entrará na privatização da Cesp", ressaltou Lobão.

O ministro também frisou que as empresas estatais centrarão esforços na geração de energia nova, nos moldes do leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, que terminou com Furnas como participante, minoritária, do grupo vencedor, junto a empresa privadas.

O novo presidente da Eletrobrás seguiu a opinião do ministro e garantiu que a estatal não vai competir com a iniciativa privada. "Vamos alavancar investimentos para que o Brasil possa andar. Levamos 40 anos para fazer 100 mil MW e temos agora que fazer isso em 15 anos", frisou Muniz.

E se Lobão e Muniz fizeram questão de afastar os rumores sobre uma possível reestatização do setor elétrico, o presidente da estatal também garantiu que as empresas sob o guarda-chuva da Eletrobrás não serão privatizadas. "Não venderemos nenhuma das federalizadas [Ceam, Cepisa, Ceal, Ceron e EletroAcre]. Não haverá privatização na nossa gestão", disse Muniz, que assumiu o posto ocupado interinamente por Valter Cardeal desde janeiro de 2007.

Edison Lobão afirmou ainda que o governo já tomou a decisão de investir em usinas hidrelétricas nas fronteiras com Argentina e Bolívia. Segundo ele, a capacidade de geração em hidrelétricas na região podem render até 12 mil MW em geração de energia. A expectativa é de que os ministros de Minas e Energia dos três países façam uma primeira reunião sobre possíveis projetos em conjunto em 24 de março.

Muniz rechaçou ainda qualquer possibilidade de que a construção de usinas em cooperação bilateral possa trazer problemas de fornecimento no futuro. De acordo com o executivo, alguns empreendimentos poderão ficar inteiramente em território boliviano.

"Essas usinas vão aumentar a segurança energética do Cone Sul. O gás [a crise com a Bolívia] foi uma situação atípica, mas hoje temos suprimento de gás para o mercado do Brasil. Nossos problemas com a Bolívia foram relativos à Petrobras, às suas instalações lá. Mas o contrato de gás está sendo honrado dentro das possibilidades", afirmou Muniz.