Título: BNDES vai voltar a dividir risco com bancos privados
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Finanças, p. C3

Os bancos privados vão voltar a dividir o risco com o BNDES nos financiamentos de operações diretas para grandes projetos. A medida foi suspensa na gestão Carlos Lessa, crítico dos altos spreads cobrados por essas instituições e com as quais se recusava a dividir o "filé mignon" dos empréstimos do banco. Agora, porém, a idéia é retomar essa prática e a proposta feita pela própria presidência do BNDES deverá ser submetida em breve à aprovação da diretoria. A área de operações indiretas do banco sugeriu que a medida funcione como uma espécie de "prêmio" aos bons agentes financeiros que trabalham dentro das regras da instituição de fomento, apurou o Valor. A idéia é mesmo premiar os bons agentes e punir os considerados maus, que violam as normas de repasse do dinheiro do BNDES. O banco quer evitar novas surpresas como a do Banco Santos, que usou o dinheiro do banco em operações ilícitas, fazendo o BNDES abrir um processo que está tramitando na Justiça. A área de operações indiretas já do BNDES suspendeu o limite de crédito para repasse de pelo menos 10 bancos, dentro do processo seletivo que vem implementando. As punições vêem ocorrendo desde o final do ano passado. Já há bancos na "mira" do BNDES para serem descredenciados, como aconteceu com o Santos, caso se confirmem suspeitas de operações ilícitas denunciadas por tomadores. Na prática, por cautela, o banco vem atuando com apenas 90 dos 170 agentes credenciados. E poderá diminuir um pouco mais esse número, avisa um interlocutor. A meta do BNDES com essas iniciativas é reduzir sua exposição junto aos agentes e também a empresas. Nesse sentido, voltar a dividir o risco dos megaprojetos com os "bons" agentes vai ajudar nessa estratégia, além de abrir condições para continuar emprestando dinheiro para projetos de grandes empresas como Petrobras e Embraer, que estão com seus limites de financiamento em relação ao patrimônio do banco quase estourados, por conta do Acordo de Basiléia, argumentam as fontes que defendem a medida. As normas da Basiléia não permitem a liberação de créditos por parte dos bancos a empresas que ofereçam risco de exposição superior a 25% do patrimônio líquido das instituições financeiras. A saída para o BNDES continuar financiando livremente essas companhias seria a sua capitalização pelo Tesouro, o que parece ainda estar distante. O que o banco espera para 2005 é aumentar seu capital com o lucro do próprio balanço de 2004, passando apenas 25% dos seus ganhos para os cofres da União. Boa parte das operações automáticas de crédito são feitas através de grandes agentes, que atuam com seus próprios clientes. Esta é, na avaliação de fontes do BNDES, uma boa maneira de evitar repasses de dinheiro do banco por instituições financeiras consideradas "informais", que não apresentam balanço, nem têm números transparentes de atuação, nicho onde se destacam principalmente os bancos pequenos. Nesse sentido, a área de operações indiretas está pensando em trabalhar reproduzindo a concentração que existe no mercado financeiro. O maior operador do banco, por exemplo, é o Bradesco, seguido pelo Banco do Brasil. Esse mesmo conceito será adotado na hora de selecionar os bancos que vão atuar no crédito direto junto com o BNDES. O critério será o ranking dos agentes. Outra mudança nas regras de financiamento em operações indiretas, que também está em curso no BNDES, será para as grandes empresas adquirirem bens de capital via Finame. A área de operações indiretas pretende dar tratamento automático para financiamentos nas linhas de crédito com limite inferior a R$ 10 milhões.