Título: Vale ameaça processar invasões por perdas
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Empresas, p. B11

A Vale do Rio Doce pretende processar os dirigentes regionais e nacionais do Movimento dos Sem Terra (MST), responsabilizando-os direta ou indiretamente pelos pelos ataques à empresa, disse ontem o diretor-executivo de Assuntos Corporativos, Tito Martins. Ontem, um grupo de 600 manifestantes ligados à organização invadiu a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), em Minas Gerais, mantendo seu maquinista, Pedro de Jesus Simões, como refém. Cerca de 300 mil toneladas de minério de ferro deixaram de ser transportadas. No sábado, uma unidade da Vale no Maranhão, a Ferro Gusa Carajás, foi depredada. Ontem, no fim da tarde, a ferrovia foi desocupada pelos manifestantes e o maquinista libertado.

O ataque à EFVM é a sétima invasão do MST contra propriedades da Vale desde 22 de agosto do ano passado. Por conta disto, Martins disse que não há nenhuma possibilidade de a Vale negociar com o MST. "O que eles estão reivindicando nós não reconhecemos como legítimo e foram agressivos, fizeram atos que consideramos de banditismo". Ele disse que a Vale já foi à Justiça e está tomando as medidas legais para recuperação da área que foi invadida ontem e vai processar efetivamente os responsáveis por estas invasões.

O diretor-executivo da Vale adiantou que a empresa também já alertou as autoridades no âmbito estadual e federal de que existe a possibilidade de uma nova invasão do MST em 15 de março, na região de Carajás, no Pará. "As autoridades estão monitorando o assunto e se tivermos comprovação de que isto vai acontecer vamos tomar medidas judiciais cabíveis." Para Martins, o MST está atacando a Vale "porque está sem bandeiras e está procurando coisa nova".

A invasão e depredação da unidade de ferro gusa da Vale, que emprega 2.7 mil pessoas no Maranhão, foi feita, segundo a versão do MST, porque a Vale estava poluindo com fumaça derivada de uma carvoaria com 78 fornos construída há três anos, que fica a 800 metros de um assentamento dos "sem terra". Segundo o movimento, as queixas ao Ibama do assentamento não tiveram respaldo e nada foi feito para amenizar a fumaça dos fornos que estava prejudicando seus 1,2 mil moradores.

Martins afirmou que "tudo que nós fazemos está licenciado e não tem nada ilegal. Nossa atividade requer dupla atenção do ponto de vista ambiental". Ele disse que se a situação de poluição do assentamento existia, "não nos foi comunicado". Admitiu porém, que "há fumaça". Pedro Gutenberg, diretor da Ferro Gusa Carajás adiantou que a Vale está testando um protótipo para reduzir em 95% a fumaça dos fornos da carvoaria.

No caso da invasão da EFVM, onde atuou junto com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MABI), o MST justificou o fato em função do pedido do MABI de uma reavaliação da barragem da hidrelétrica de Aimorés, da Vale, que estava deslocando mil famílias e prejudicando o serviço de esgoto do município de Resplendor (MG). A diretora de Energia da Vale, Vânia Somavilla, afirmou que todas as famílias foram assentadas e que a Vale construiu estação de tratamento de esgoto na cidade. "O que falta são as ligações domiciliares que estão sendo acertadas entre a Copasa (empresa de saneamento de Minas) e a prefeitura", afirmou a executiva da companhia.