Título: Falta de caminhões encarece frete no MT
Autor: Cruz , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Agronegócios, p. B15
O trecho de serra da BR-364, que liga Cuiabá a Jaciara - município mato-grossense que fica a 140 quilômetros da capital estadual e tem no aventureiro rafting, realizado na Cachoeira da Fumaça, um de seus atrativos aos visitantes - encerra-se com um portal que tem pouco de turístico. Carros e, principalmente, caminhões enfileiram-se diante da dezena de borracharias que dão as boas-vindas aos motoristas que venceram a subida que dá acesso ao município.
O gargalo logístico que impede um crescimento mais farto do agronegócio - e, no geral, da economia do país - é fartamente ilustrado por cenários como o da vizinhança de borracharias da entrada de Jaciara. Nesta safra (2007/08), outros imbróglios ajudaram a engasgar ainda mais o escoamento da produção.
De janeiro ao dia 26 de fevereiro, vigorou a decisão liminar da Justiça de Mato Grosso que impôs o limite de oito horas de trabalho aos motoristas que fazem o frete dos grãos produzidos no Estado. A liminar foi derrubada, mas continuará a ter desdobramentos até o fim do escoamento desta safra.
"O custo do frete aumentou em 20% e, enquanto a regra vigorou, teve transportadora que deixou de mandar caminhão para cá", afirma Miguel Mendes, diretor-executivo da Associação dos Transportes de Carga do Mato Grosso (ATC). "O mercado ainda está se ajustando, mas esta é uma safra de alta produtividade. A demanda está grande".
São cerca de 12 mil caminhões que trabalham todo ano no escoamento da produção agrícola de Mato Grosso. As chuvas atrasaram o plantio no fim do ano passado, o que acentuou os problemas no transporte na colheita que ocorre agora. Com a decisão das transportadoras de não enviar todos as suas carretas para o Estado, o aperto amplificou-se ainda mais.
O G10, grupo de transportadoras de Maringá (PR) que trabalha no embarque da produção do Centro-Oeste, foi um dos que reduziram a frota no momento em que as oito horas de trabalho dos motoristas foram fiscalizadas. "Todos os nosso motoristas são do Paraná e eles não tinham interesse em trabalhar oito horas e ficar com o restante do tempo ocioso", afirma o diretor-presidente do grupo, Cláudio Adamucho. "Reduzimos o número de caminhões pela metade e a idéia era zerar. Estávamos buscando outros mercados". O G10 tem 500 carretas bi trem e 650 motoristas.
Como o atraso no plantio postergou também o início da colheita, a redução do número de caminhões enquanto as oito horas foram obrigatórias não chegou a causar maiores danos aos clientes, afirma Adamucho. Por outro lado, há, no momento, um "aquecimento exagerado" na demanda por transporte, segundo ele. "O pessoal está acelerando o trabalho de embarque e desembarque 24 horas por dia".
A redução do número de caminhões em parte de uma colheita recorde somou-se a problemas recorrentes, mas não menos perversos. Um jogo de pneus pode durar até um ano e meio, ou 120 mil quilômetros, mas o custo com pneus poderia ser 30% menor se as condições das estradas fossem melhores, estima Adamucho. "O tempo de viagem seria entre 20% e 30% menor se tivéssemos estradas melhores", afirma.
Somadas, a manutenção e a depreciação das carretas compõem um dos maiores volumes de gastos na composição do custo do frete, segundo as contas da Associação dos Transportes de Carga do Estado. São R$ 0,28 por quilômetro rodado, de um total de R$ 2,02. Custo maior apenas o do abastecimento dos caminhões, que responde por R$ 0,85.
Uma das críticas da abandonada liminar que impôs a carga horária de oito horas aos motoristas era a dificuldades de fiscalização. Facilidade maior é a de controlar o limite de velocidade na BR-364, entre Cuiabá e Jaciara. Dois radares estão em plena ação, mesmo em um trecho em que, devido ao grande fluxo de carretas e dos buracos no asfalto, é inviável superar os 40 quilômetros por hora. "É caminhão tombado o tempo todo", diz Antonio Carlos Romagnoli, da Romagnoli Transportes.