Título: IFC foca microfinanças e crédito a imóveis
Autor: Carvalho,Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2008, Finanças, p. C10

Depois de injetar nada menos que US$ 1 bilhão nos últimos três anos em bancos médios brasileiros, a International Finance Corporation (IFC) decidiu ampliar seu apoio ao setor financeiro do país. A partir do próximo ano fiscal, que começa em julho, o braço do Banco Mundial para financiamento ao setor privado também vai oferecer aos bancos brasileiros assessoria e recursos financeiros para o desenvolvimento de operações de microfinanças e de crédito imobiliário.

A microfinanças não é tão desenvolvida no Brasil quanto em outros países da América Latina como Bolívia, Peru e México, disse o diretor gerente da IFC no país, Andrew Gunther. Apesar disso, a IFC já tem uma parceria na área, a Microinvest, da qual detém 17,57% e o Unibanco, o restante. A Microinvest ainda engatinha, porém.

No México, as parcerias são de maior porte A IFC participa do Banco Compartamos S.A. instituição de microfinanças especializada em crédito para pequenos empreendimentos tocados por mulheres nas áreas rurais de Chiapas e Oaxaca, que começou como organização não-governamental, em 1992, com 15,5 mil clientes. Em 2001, abriu o capital e fez um lançamento inicial de ações (IPO, em inglês) e tem atualmente 453 mil clientes e 145 agências em 27 estados mexicanos. A IFC investiu US$ 660 milhões no Compartamos, para apoiar a transição de ONG em banco e, depois disso, mais cerca de US$ 100 milhões.

"Podemos apoiar ONGs que queiram evoluir, como o Compartamos; ou bancos que queiram entrar no negócio de microfinanças", disse Paulo de Bolle, responsável por instituições financeiras para a IFC no Brasil.

Na área de crédito imobiliário, a IFC quer ajudar o mercado brasileiro a desenvolver os negócios de securitização de recebíveis como instrumento de captação de recursos. Também nesse negócio, a IFC atua como assessor ou financiador. A IFC pode também trabalhar diretamente com incorporadoras, que têm que investir antes de vender os imóveis; e com enfoque na habitação para a baixa renda. "O crédito imobiliário tem um impacto grande na vida das pessoas", justifica Gunther.

Nessa área, alguns passos já foram dados: a IFC tem participação em duas empresas de securitização imobiliária, a Cibrasec, 9,09%; e na Rio Bravo (RB Sec), 19,9%.

Outro foco de atenção é financiar projetos de sustentabilidade - uma preocupação global da IFC. Com esse objetivo, já emprestou US$ 325 milhões de 2005 para cá ao Banco Real para repasse em três linhas: eficiência energética, governança corporativa e cadeia produtiva.

O apoio financeiro aos bancos médios foi o caminho encontrado pela IFC para disseminar o crédito para as pequenas e médias empresas, clientes preferenciais dessas instituições. A estratégia começou a ser implementada em 2005, não por coincidência quando os bancos médios passaram a enfrentar o aperto de liquidez causado pela quebra do Banco Santos. Desde então, pouco mais de US$ 1 bilhão foram emprestados a 14 bancos, alguns beneficiados em mais de uma operação - um terço dos US$ 3 bilhões desembolsados no país, no período.

A IFC atua com duas linhas básicas: recursos para repasses a pequenas e médias empresas e garantias em operações de financiamento ao comércio exterior. A primeira operação foi um crédito de US$ 10 milhões para o Tribanco, em 2005. No ano seguinte, foi feito o primeiro investimento em moeda local, um empréstimo de US$ 50 milhões.

No último ano fiscal, a IFC passou a focar os empréstimos sindicalizados, buscando alavancar recursos junto a bancos privados internacionais. Um bom exemplo disso foram os créditos sindicalizados fornecidos aos bancos Daycoval (US$ 125 milhões), Fibra (US$ 200 milhões) e Sofisa (US$ 190,3 milhões),

Nos empréstimos sindicalizados, a meta da IFC é alavancar quatro vezes o que coloca. Mas a proporção pode diminuir, disse Gunther, diante da retração atual do mercado. De toda forma, a IFC conseguiu atrair para instituições médias brasileiras, no segundo semestre de 2007, em plena crise das hipotecas de alto risco americanas (subprime) US$ 400 milhões de vários bancos internacionais. Alguns são pouco conhecidos do mercado brasileiro. Há uma instituição do Chile e outra da Índia, por exemplo.

Gunther ressaltou que o fato e a IFC ter ampliado a presença local ajudou a desenvolver os negócios. Há cerca de três anos a IFC adotou a política de reduzir a equipe na sede, em Washington, e fortalecer os escritórios locais. Neste ano, pela primeira vez há mais gente da IFC fora do que na capital americana. No Brasil, a equipe é de aproximadamente 60 pessoas. "Prova de que a decisão foi acertada é que os últimos três anos foram os de maior lucro na história da IFC", disse.

E os desembolsos estão aumentando. No ano fiscal de 2007, terminado em julho, a IFC emprestou US$ 509 milhões ao Brasil; na primeira metade do atual ano fiscal já foram emprestados US$ 600 milhões.