Título: Retomada dos bens não-duráveis será testada com aumento dos juros
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Brasil, p. A3

Um maior dinamismo dos bens de consumo não-duráveis e semiduráveis será fundamental para garantir o crescimento da produção industrial em 2005, avaliam economistas ouvidos pelo Valor. A expectativa é que a recuperação da renda permita o aumento das vendas de alimentos, bebidas e têxteis esse ano. Mas os especialistas ponderam sobre o risco de a alta da taxa de juros brecar esse processo. A produção de bens não-duráveis e semiduráveis obteve resultado positivo em dezembro, ao subir 3,4% ante novembro. Em compensação, o crescimento de 4% desse segmento no ano ficou muito abaixo dos 21,8% registrados pelos bens de consumo duráveis ou os 19,7% pelos bens de capital. "Para a indústria ter bom crescimento em 2005, é preciso uma contribuição maior dos bens não-duráveis", avalia Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O Iedi projeta crescimento de 5% da produção industrial em 2005. Gomes de Almeida explica que o aumento das vendas de alimentos e bebidas ainda não "engatou", porque esses setores dependem da evolução da renda. O rendimento médio da população caiu 0,8% em 2004, após declinar 12,2% em 2003. A melhora da renda não veio porque o crescimento do emprego, que começou no segundo semestre, não foi forte e prolongado o suficiente. Para Aloísio Campelo, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, 2005 tende a ser um ano relativamente "tranqüilo". Ele acredita que as exportações deixaram de ser o motor da economia, mas as vendas de bens não-duráveis crescerão acompanhando a recuperação da renda. Campelo não acredita que o consumidor atingiu o seu limite de endividamento e, portanto, projeta novo crescimento nas vendas de bens duráveis. Ele também acredita que os empresários devem seguir investindo, o que dará impulso às vendas de bens de capital. A Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia) projeta alta entre 3,5% e 4,5% para a produção de alimentos em 2005. "Dessa vez, o aumento virá do mercado interno", diz Amílcar Lacerda, gerente do departamento econômico da entidade. Em 2004, a produção industrial do setor aumentou 4,9% - a maior parte por conta da exportação. Segundo Lacerda, as vendas no mercado interno começaram a crescer em outubro. O setor não terá dificuldades para aumentar a produção e atender à demanda. O nível de utilização da capacidade é relativamente baixo e ficou em 79,9% em janeiro.