Título: Preço do boi atropela sazonalidade e UE e é o maior em período de safra
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2008, Agronegócios, p. B14

O mercado de boi gordo vive uma safra com cara de entressafra. O preço no interior de São Paulo, uma região de referência para as cotações, é o maior para um período de safra, em termos nominais, desde o início do Plano Real - isto é, em 14 anos.

De acordo com acompanhamento da Scot Consultoria, a arroba do boi gordo está cotada em R$ 76,50 na região de Barretos, valor 35,4% superior à média de R$ 56,50 de março de 2007. Em valores reais (deflacionados pelo IGP-DI), o preço do boi gordo é o maior desde janeiro de 2004, quando a arroba atingiu R$ 77,48, segundo a Scot. No levantamento da AgraFNP, a arroba do boi estava ontem em R$ 76,70 em São Paulo.

O que explica os preços firmes em plena safra é a mudança no ciclo de produção do boi gordo no país, decorrente do abate de matrizes e da redução de investimentos nos últimos quatro anos após um período de baixa rentabilidade na pecuária. O resultado é uma menor oferta de animais, afirmam Fabiano Tito Rosa e José Vicente Ferraz, da Scot e da AgraFNP, respectivamente.

A retenção de matrizes atualmente, num movimento oposto ao visto nos últimos anos, também acentua a falta de oferta, diz um especialista do mercado.

Tito Rosa e Ferraz concordam ainda que o embargo europeu à carne bovina brasileira - que durou quase um mês - interferiu pouco no mercado de boi. A suspensão ocorreu depois que a UE não aceitou uma lista de 2.681 fazendas apresentadas pelo Ministério da Agricultura, como aptas a fornecer animais para abate e exportação à Europa. O bloco queria apenas 300 propriedades.

"O embargo serviu para mostrar que houve um forte ajuste na oferta", afirma Tito Rosa. Ele argumenta que mesmo com "o melhor mercado para a carne bovina brasileira fechado", o preço do boi não caiu. Para Ferraz, o embargo da UE pode ter impedido uma alta maior dos preços. No dia 1º de fevereiro, quando a UE suspendeu temporariamente as importações do Brasil, a arroba do boi gordo estava em R$ 73,50, de acordo com a AgraFNP.

O embargo da UE foi suspenso e hoje apenas 106 fazendas estão na lista das aptas a exportar, o que significa que a oferta para o mercado europeu é muito restrita. Mas nesse período, os exportadores acabaram driblando o embargo europeu vendendo mais para outros mercados. Segundo fontes do setor, as empresas ampliaram suas exportações para nações da África do Norte, Hong Kong, Rússia e Venezuela, país que reduziu as compras da Colômbia após recentes conflitos entre os dois governos.

É preciso lembrar, porém, que esses países consomem mais cortes de dianteiro, cujos preços são inferiores aos cortes de traseiro, mais nobres, exportados à UE.

O cenário pós-embargo europeu também mostrou que o mercado internacional é cada vez menos fundamental para o Brasil num quadro de aumento da demanda doméstica e de queda do dólar, observa um analista.

A escassez de matéria-prima e as exportações restritas para a UE também levam os frigoríficos a trabalhar com o ociosidade elevada, outra característica da entressafra. Segundo Tito Rosa, há empresas com escalas de abate de três a quatro dias e algumas trabalham com ociosidade de 30%. "É um cenário de entressafra em plena safra", afirma.

E a perspectiva é de que o mercado de boi gordo se mantenha firme, no curto e médio prazo, justamente devido ao atual quadro, avaliam os especialistas. Ferraz, da AgraFNP, arrisca que a arroba pode ficar próxima de R$ 90,00 em São Paulo por volta do fim de novembro. Tito Rosa diz que se houver recuo de preços, este deve ser "pouco significativo".

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