Título: Aplicação em DI soma quase 40% dos ingressos no setor
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2008, EU & Investimentos, p. D2

Quase 40% dos recursos que ingressaram no setor de fundos de investimento neste ano foram direcionados para fundos DI. De acordo com os dados do site financeiro Fortuna, a captação líquida (descontada a rentabilidade) dos fundos no ano atingiu R$ 26,019 bilhões, dos quais R$ 10,053 bilhões foram para DIs, até o dia 7 de março. Isso mostra que, diante de tanta instabilidade, o investidor tem preferido o porto seguro das carteiras com juros pós-fixados que, por serem mais conservadoras, não estão sujeitas a flutuações da taxa. Somente neste início de mês, até o dia 7, dos R$ 406 milhões que entraram em fundos, R$ 392 milhões tiveram como destino essas carteiras mais conservadoras.

Muitos investidores se dizem arrojados, mas, após um ou dois meses de resultados negativos, sacam os recursos e procuram aplicações menos arriscadas, diz André Schibuola, sócio da Precision Asset Management, gestora especializada em fundos de renda fixa. Na visão dele, o ano será bastante difícil para se ganhar dinheiro e, se o aplicador não permanecer fiel aos seus objetivos financeiros, a volatilidade certamente se traduzirá em perdas. "Esse cenário indefinido deverá perdurar até o meio do ano, portanto, esse movimento em direção a ativos mais seguros deve ser manter por mais um tempo", diz.

O retorno médio dos DIs no acumulado do ano é, em média, de 1,86% até o dia 7, para 1,94% do CDI no mesmo período. Outra categoria que vem atraindo investidores, ainda que em menor nível, é a dos renda fixa, que pode aplicar em papéis prefixados. Essas carteiras captam no ano R$ 1,746 bilhão e R$ 306 milhões no mês. Em termos de ganhos, os renda fixa rendem, em média, 2,01% no ano.

Os dados mostram ainda que enquanto os DIs captaram, os multimercados seguiram com fortes resgates. Segundo o Fortuna, R$ 10,958 bilhões deixaram a categoria no ano, dos quais R$ 2,119 bilhões somente na primeira semana de março. Em termos de rentabilidade, os multimercados registram ganho médio de 2,10% no acumulado do ano, ante 1,94% do CDI até o dia 7. No início do mês, entretanto, a categoria apresenta uma perda média de 0,10% para uma variação de 0,21% do CDI no período.

"O investidor brasileiro ainda não se acostumou com volatilidade", avalia Thiago de Castro, sócio do escritório de aconselhamento financeiro TAG Investimentos. "Nos últimos anos, a maioria dos fundos multimercados e de ações teve bons resultados e as pessoas se acostumaram com ganhos altos, achando que era fácil ganhar dinheiro." Segundo o executivo, lá fora, para obter um retorno de 15%, os fundos hedge costumam ter uma volatilidade que varia de 7% a 10% ao ano. Aqui, os multimercados conseguem um retorno de 11,5%, que é o CDI, com uma volatilidade média de 2% ou 3%. "A partir de agora, o investidor terá de redefinir seu perfil de risco, ou seja, terá de abrir mão de resultados ou assumir maiores riscos."

Essa migração para fundos DI é perfeitamente compreensível, mas o investidor precisa ficar ciente de que também está sujeito a perdas em casos de forte estresse de mercado, alerta Alexandre Espírito Santo, sócio da Plenus Gestão de Recursos e chefe do departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. Em 2002, por conta da eleição presidencial que apontava Lula como favorito, o mercado sofreu e até os DIs, considerados o porto seguro, tiveram perdas.

A falta de tendência para os ativos acaba afugentando os investidores exatamente num momento em que o mercado brasileiro tinha tudo para deslanchar, avalia Espírito Santo. "As pessoas ainda têm na memória os cinco anos de alta e, quando vêem uma virada como essa, se perguntam se o período de valorização não acabou", diz. "E, na dúvida, os investidores acabam indo para o que há de mais convencional, que são os fundos DI."

Mesmo com o Índice Bovespa parecendo uma verdadeira montanha-russa dadas as suas fortes oscilações, alguns investidores estão mantendo o sangue frio e aplicando em renda variável. Os fundos de ações registram ingresso de R$ 757 milhões no ano, apesar de apresentarem perda média de 4,90% até o dia 7. O Ibovespa registra queda de 3,16% no período. Somente em março, a captação é de R$ 358 milhões, enquanto os fundos de ações perdem 2,93% em média, para uma queda de 2,55% do índice.

A atração de recursos da categoria, no entanto, acontece por conta dos fundos abertos de Petrobras e Vale, de recursos próprios, que estão incluídos nos fundos de ações. De acordo com Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna, dos 15 fundos de ações que mais captaram neste ano, 10 deles são de Petrobras ou Vale.

Os dados do site revelam ainda que as carteiras formadas por papéis da estatal do petróleo registram ingresso de R$ 891 milhões no ano, embora tenham perdas de 9,19% no ano e de 5,01% no mês até dia 7. Já as aplicações em fundos Vale apresentam captação de R$ 527 milhões, apesar das quedas de 5,49% no mês e de 5,89% no ano.

Para Schibuola, da Precision, a crise nos mercados financeiros no mundo todo não deve, infelizmente, ter vida curta. "O cenário continua um tanto negativo e deve permanecer assim por mais tempo", diz. "Por isso, acredito que o mundo ainda vai ter mais problemas com a recessão americana", diz. Além disso, ele afirma que não ficaria nada surpreso se algum dos grandes bancos envolvidos na crise das hipotecas de alto risco ("subprime") acabasse quebrando, afetando ainda mais os mercados.