Título: Mais de 33 empresas já abriram conta no exterior
Autor: Cristiane Perini Lucchesi ,
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Brasil, p. A3

As empresas brasileiras terão interesse em deixar uma fatia maior de suas receitas com exportação fora do país agora que o governo acabou de vez com a obrigatoriedade para ingressar com os recursos. Até hoje, mais de 33 grandes corporações com valores exportados que ultrapassam US$ 13 bilhões por ano abriram contas no exterior para aproveitar a regra vigente desde agosto de 2006, que permitia deixar até 30% das receitas com exportação fora do país. São nomes como Votorantim, Scania, Samarco, Sadia, Embraer, Paranapanema e Braskem.

Os principais atrativos vinham sendo as economias com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de câmbio à vista, que podiam chegar a 0,38% na hora de entrada e mais 0,38% na saída dos recursos. Agora, acabou o 0,38% de IOF no câmbio para exportação - na entrada dos recursos - , mas permanece na saída para diversos pagamentos das empresas.

Há ainda ganhos operacionais e administrativos e redução da burocracia para as empresas ao deixar os recursos no exterior. Sem contar que a companhia evita pagar a diferença entre a cotação do câmbio para a venda e para a compra ao ingressar e depois sair com os recursos do país.

O impacto do fim da cobertura cambial em termos de taxa de câmbio, no entanto, será limitado. "Tanto no mercado externo como no mercado interno há instrumentos financeiros para proteção cambial de ativos e passivos e alternativas de investimento do caixa em dólares ou reais", diz José Augusto Durand, gerente da mesa de clientes do Itaú BBA, que abriu 30 contas para clientes que exportam um total de US$ 7 bilhões por ano somente no início deste ano.

O Itaú BBA oferece investimentos em reais no mercado externo para as empresas que preferem aplicar seu caixa externo obtendo os juros internos brasileiros. Para oferecer o produto, o banco fica com passivo em reais e precisa comprar a moeda brasileira no mercado à vista ou futuro interno para casar ativos com os passivos. Ou seja, para efeitos de taxa de câmbio, pouco importa se a empresa exportadora investe seu caixa em reais no Brasil ou no mercado externo, pois os dois mercados são interligados - a demanda pela moeda brasileira cresce, gerando pressão para a valorização do real.

Segundo Durand, há empresas exportadoras que investem seu caixa em dólares, pois têm dívidas em dólares. Mas, ainda nesse caso, para efeitos de taxa de câmbio, tanto faz se o investimento é no mercado interno ou externo. As empresas que fazem operações financeiras no mercado futuro de proteção contra a oscilação no valor de dívidas ou receitas em dólar também podem fazer isso no mercado interno ou externo e o impacto no valor do real é semelhante.

O movimento de abertura das contas no exterior pelas empresas brasileiras ganhou mais força neste ano e só começou a acontecer desde fevereiro de 2007, apesar de a autorização para a abertura dessas contas ter saído em agosto de 2006. O que animou as companhias foi a publicação, em 2007, da Declaração de Recursos no Exterior (Derex) da Receita Federal, por meio da instrução normativa 726. Antes disso, as empresas ficavam receosas, sem saber como agir, com medo de punições da Receita, que passou a controlar no lugar do Banco Central o ingresso de recursos. Depois da Derex, restavam, no entanto, questões tecnológicas - as empresas precisavam adaptar seus sistemas às novas e complexas regras cambiais.

Foi aí que os bancos vieram com soluções tecnológicas, evitando que as empresas tenham de investir em sistemas próprios. "Nosso sistema é específico para a gestão do caixa externo, adaptado à cada mudança de regras do câmbio no Brasil e fornece as informações necessárias à Receita Federal e ao BC", conta Mario Brugnetti, diretor de gestão de caixa do Itaú BBA.

Além do gerenciamento do caixa por meio da internet, o Itaú BBA oferece documentação e atendimento bilíngue. O processo de abertura da conta, incluindo o treinamento aos funcionários na empresa e os links entre o sistema do Itaú BBA e da empresa, dura cerca de uma semana, diz Alexsandra Bertolla, responsável pela área de gestão de caixa internacional.