Título: Demanda doméstica faz PIB crescer 5,4%
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Brasil, p. A9

O Produto Interno Bruto (PIB) fechou 2007 com crescimento de 5,4%, o maior desde 2004, e equivalente em valores a R$ 2,6 trilhões. A expansão foi sustentada pela demanda interna, que contribuiu com 6,9 pontos percentuais no resultado do PIB. Já a demanda externa pesou negativamente na economia no ano passado, tirando 1,4% do PIB, o que significa que se as contas externas tivessem colaborado de forma neutra ao PIB, a economia podia ter avançado mais.

A demanda interna foi puxada pelo consumo das famílias e pelo investimento, que cresceram 6,5% e 13,4% respectivamente. Dos 5,4% do PIB, 3,9 pontos percentuais vieram do consumo das famílias; 2,2 pontos percentuais do investimento, e 0,6% do consumo do governo, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de crescimento do consumo das famílias bateu recorde no ano passado, de acordo com a nova série histórica do PIB, iniciada em 1996. O forte avanço foi impulsionado pelas altas de 3,6% na massa salarial, de 28,8 % no crédito para pessoa física e de 20,3% nas importações. Mesmo assim, a alta do consumo do brasileiro ficou abaixo da taxa de 1995, no Plano Real, quando o crescimento foi de 8,6%.

O aumento do investimento em máquinas, equipamentos e gastos em construção civil, medido pela formação bruta de capital fixo (FBCF), foi o maior desde 1990 e elevou a taxa de investimento sobre o PIB para 17,6%, a maior dos últimos 12 anos. A produção nacional e a importação de bens de capital impulsionaram o investimento e cresceram 19,3%, enquanto a construção civil cresceu 5,1%.

O PIB per capita subiu 4% em termos reais em 2007, taxa só superada pelos 4,2% de 2004, quando o PIB cresceu 5,7%. Em termos nominais, a renda per capita nacional subiu para R$ 13,515 mil em 2007. A gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, pondera, entretanto, que embora a renda per capita esteja em patamares positivos, persiste no Brasil o problema da má distribuição de renda.

O crescimento econômico gerou um aumento de 9,1% na arrecadação dos impostos sobre produtos, um recorde. O imposto de importação cresceu 23,6%, surpreendendo o próprio IBGE, por conta da aceleração das importações no período. O IPI aumentou 14,1%, devido ao boom de vendas da indústria automobilística. O ICMS avançou 8,5%. Outros impostos, como ISS e Cofins, cresceram 7,8%.

A performance desses tributos está atrelada ao crescimento da indústria, um dos principais fatores pelo lado da oferta no PIB. Em 2007, o setor cresceu 4,9%, liderado pela indústria de transformação (5,1%). O setor de serviços, com peso de 60,5% na oferta, cresceu 4,7%. Neste segmento, a intermediação financeira foi a que mais cresceu, com taxa de 13%, por conta do aumento do crédito no sistema financeiro.

Os bons números do PIB de 2007, porém, mostram que o aumento acelerado das importações para consumo e investimento por conta do câmbio sobrevalorizado começa a deteriorar as contas externas do país, levando o país a se tornar novamente dependente de capital externo para financiar seu crescimento.

As exportações aumentaram 6,6% e as importações de bens e serviços, 20,7%, de acordo com os cálculos do sistema de Contas Nacionais, que são diferentes daqueles calculados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Em 2006, o Brasil registrou uma capacidade de financiamento de R$ 20 bilhões, e em 2007 inverteu a essa conta e passou a ter necessidade de financiamento de R$ 4,5 bilhões. Cláudia Dionísio, técnica do IBGE, disse que a necessidade de financiamento poderia ter sido maior em R$ 5 bilhões caso não tivesse ocorrido uma redução do pagamento líquido de juros da dívida (interna e externa) de R$ 10,5 bilhões. O saldo externo de bens e serviços foi de R$ 39,1 bilhões no ano passado, reduzindo R$ 29 bilhões entre 2007 e 2006. "Temos reservas para sustentar o crescimento, mas o melhor dos mundos seria crescer com capacidade de pagamento", disse Cláudia.