Título: Mantega fala em monitorar expansão da economia e BC destaca controle de preços
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Brasil, p. A10

O governo conta com um crescimento gradual da economia para evitar que gargalos de infra-estrutura e limitações da oferta de produtos e serviços interrompam um ciclo de expansão sustentada. Essa é a estratégia desenhada, ontem, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao analisar o aumento de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

O plano, explicou, é evitar uma aceleração "desmesurada" desse crescimento. "Se crescer rápido demais, pode não ter oferta para acompanhar, como já aconteceu em outros períodos. Aí, tem de abortar esse crescimento. Para crescer de forma equilibrada, não pode acelerar muito", afirmou.

Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a expansão é diversificada por diversos setores e regiões e os preços sob controle são essenciais para garantir crescimento sustentado com inclusão social. "O Banco Central continua integral e inequivocamente comprometido com sua principal missão: zelar pela estabilidade do poder de compra da moeda, que é a maior contribuição que a política monetária pode oferecer para assegurar o crescimento econômico sustentado com inclusão social", afirmou, por meio de nota à imprensa.

Para Meirelles, a estabilidade cria condições para esse crescimento por meio do "aumento do investimento, ampliando a capacidade de crescimento da economia e gerando aumento do emprego e da renda. O número confirma o caráter sustentado do atual ciclo de crescimento econômico, com proeminência do investimento produtivo e forte disseminação pelos diversos setores de atividade e regiões do país". Ele destacou que os resultados do ano passado mostram que a política monetária do BC foi bem-sucedida e resultou em crescimento com inflação dentro da trajetória de metas.

Se a economia crescer demais, contudo, Mantega concorda com a avaliação de que pode faltar infra-estrutura. O ministro pondera, no entanto, que no atual nível de crescimento não foram identificados pontos de estrangulamento. Para este ano, Mantega avalia que a crise financeira internacional é séria e pode provocar alguma desaceleração. Apesar desse risco, ele mantém a previsão de crescimento de 5% para 2008. "O importante é que nunca estivemos tão bem preparados para enfrentar uma crise dessa magnitude. Em outras ocasiões, o que aconteceu teria derrubado a economia brasileira", disse o ministro.

Sobre o crescimento do PIB em 2007, procurou ressaltar a qualidade da expansão. Na sua avaliação, ela veio acompanhada de um investimento recorde, do aumento de produtividade das empresas e da elevação do PIB per capita, que voltou aos patamares dos anos 50, 60 e 70. Para Mantega, foi derrubado o mito do "PIB potencial". "Se dizia, há não muito tempo, que o PIB não poderia crescer mais que 3,5% sem provocar inflação. Está provado que o PIB pode crescer mais que 5% sem gerar pressões inflacionárias. É o que nós estamos verificando", disse.

A taxa de aumento no investimento em 2007 - 13,4% de acordo com o IBGE - significa crescimento com aumento da capacidade produtiva, ao mesmo tempo em que a inflação está controlada. A demanda também cresceu no ano passado em bom ritmo, mas numa velocidade equivalente à metade da verificada no aumento do investimento. "É algo inédito. No passado, tínhamos aumento do crescimento e da inflação. Agora, crescemos com inflação estabilizada", comentou.

Outra virtude do crescimento atual, segundo Mantega, é a geração de empregos e o aumento da massa salarial. Portanto, é um processo que se realimenta, porque, ao crescer com investimento e demanda, os novos empregos geram mais demanda. Mantega também ressaltou os ganhos de produtividade e e o aumento da taxa de investimento para 17,6% do PIB. "As empresas estão se modernizando, adquirindo novos equipamentos, parte deles importados, aproveitando o dólar baixo", afirmou.

Além da modernização do parque produtivo, Mantega citou que o aumento do uso da capacidade instalada das empresas está ocorrendo com a adoção do segundo e até do terceiro turno de trabalho, o que aproveita melhor os equipamentos. "Estamos num processo de aumento da produtividade, fundamental para manter os custos baixos da economia", explicou. Para ele, há um ciclo de crescimento que não é momentâneo, porque vem se repetindo há quatro anos com taxas acima de 3%.

O lado positivo da valorização da moeda nacional, na visão do ministro da Fazenda, é o barateamento de máquinas e equipamentos importados. Ele concordou, contudo, que a valorização é "uma faca de dois gumes", porque também encarece o produto brasileiro que é exportado. Sobre esse problema, informou que a nova fase da política industrial -que está perto de ser anunciada pelo governo - vai privilegiar a exportação de produtos com maior valor agregado. O objetivo é manter o setor externo como um dos pilares de crescimento.