Título: A evolução das exportações das cooperativas brasileiras
Autor: Evaristo Marzabal Neves e Luciano Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Opinião, p. A9

A Secretaria do Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior) começou a divulgar, na segunda quinzena de janeiro, as primeiras informações desagregadas das exportações brasileiras em 2004. Com essas informações, é possível analisar o desempenho de segmentos da economia brasileira. Impressiona a evolução das cooperativas brasileiras nas exportações nos primeiros anos desta década. De um valor abaixo de US$ 1 bilhão (US$ 762,6 milhões) em 2000, evolui para US$ 2,002 bilhões em 2004, crescimento de 162,5% em cinco anos. No comparativo 2004/2003, o crescimento no valor das exportações das cooperativas brasileiras foi de 35% (US$ 1,304 bilhão em 2003), puxado pelo significativo desempenho exportador do agronegócio brasileiro e, principalmente pelo complexo soja, carro-chefe das commodities agrícolas exportadas pelo país. No comparativo 2004/2003, as exportações de soja em grão e do farelo pelas cooperativas experimentaram crescimento nas vendas externas de 54,4% e 63,9%, respectivamente. Considerando-se apenas o total captado com soja em grão, farelo e óleo de soja em 2004 (US$ 837,1 milhões), o complexo cresceu 45,8% em relação a 2003 (US$ 574,1 milhões). Nas exportações das cooperativas brasileiras, o complexo soja representou 41,8%, que pode ser um pouco maior se forem considerados outros subprodutos da soja (óleo refinado e sementes). Quais Estados brasileiros foram responsáveis por esses incrementos no valor exportado? Conduzido pelo bom desempenho do complexo soja, as cooperativas do Estado do Paraná exportaram 49% a mais em 2004 (US$ 992,2 milhões) em relação a 2003 (US$ 663,7 milhões) e representaram metade das exportações totais das cooperativas brasileiras (49,6%). O Estado de São Paulo se posicionou em segundo lugar, com evolução de 48% (US$ 412,7 milhões em 2004 e US$ 279,4 milhões em 2003), captando 20,6% do total exportado pelas cooperativas brasileiras. As cooperativas do Rio Grande do Sul conseguiram evolução significativa (terceiro lugar, com US$ 220,7 milhões), crescimento de 132% sobre 2003 (US$ 95,3 milhões), 11,0% do total exportado pelas cooperativas. Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul corresponderam a 81,2% do total das exportações das cooperativas nacionais. Incluindo-se Minas Gerais (quarto colocado), com exportações de US$ 124,0 milhões (6,2%), e Santa Catarina (US$ 119 milhões e 6,0%), as exportações das cooperativas dos cinco Estados alcançaram 93,4%.

A China ocupou o 1º lugar entre os destinos das exportações, com crescimento de 109,9% em relação a 2003

Quais os destinos dessas exportações? A China ocupou o primeiro lugar (pela primeira vez) com dispêndios de US$ 328,4 milhões, crescimento de 109,9% em relação a 2003, representando 16,4% das exportações das cooperativas brasileiras. Em segundo lugar vem a Alemanha, com crescimento de 12,7% (US$ 177,9 milhões em 2003 e US$ 200,4 milhões em 2004) e participação de 10% no total exportado pelas cooperativas brasileiras. Em terceiro lugar aparecem Emirados Árabes, com US$ 131,4 milhões e 6,6% das exportações; em quarto lugar, França (US$ 114,3 milhões e 5,7%); em quinto lugar, Holanda (US$ 108,8 milhões) e, em sexto lugar, Japão (US$ 101, 5 milhões e 5,1%). Cada um desses países despendeu acima de US$ 100 milhões na aquisição de produtos das cooperativas brasileiras e representaram mais de 2/5 das exportações do setor (43,5%). É interessante comentar a participação chinesa no destino das exportações das cooperativas brasileiras no período 2000 a 2004. Em 2000, comprou US$ 19,4 milhões e ocupou o 13º lugar entre os países compradores de produtos das cooperativas brasileiras; em 2001, aumentou as aquisições para US$ 40,5 milhões, posicionando-se em 10º lugar; em 2002, mais do que dobra (138,8%), chegando aos US$ 96,7 milhões e ocupando o segundo lugar, logo atrás dos Emirados Árabes; em 2003, cresceu 61,8% (US$ 156,5 milhões), novamente em segundo lugar, precedida pela Alemanha (US$ 177,9 milhões); em 2004, passou para primeiro. Neste ultimo qüinqüênio, o evolutivo desempenho exportador das cooperativas brasileiras se deveu em boa parte às exportações do complexo soja, favorecidas pelo câmbio (desvalorização do real), problemas sanitários (proibição do uso de rações de origem animal, ocasionados pelas doenças do mal da vaca louca, na bovinocultura de corte, e gripe asiática, na avicultura, provocando corrida às rações de origem vegetal) e aquecimento da demanda internacional, principalmente da China e países europeus. Daí o destaque das cooperativas do Paraná como maiores fornecedores e, como maiores compradores, China, União Européia (Alemanha, França e Holanda), Emirados Árabes e Japão. Não são somente as oportunidades de mercado que favorecem o crescimento das cooperativas do agronegócio. Nos últimos anos, a implementação de uma administração profissional, o fortalecimento da prática cooperativista, a existência de planejamento e organização e de um melhor dimensionamento e escalonamento de investimentos, maior capacitação e treinamento de pessoal em seus mais diferentes escalões, a agregação de valor, via concentração horizontal (interação ou fusões) e integração vertical (industrialização da matéria-prima e comercialização externa própria, não sendo apenas um fornecedor de produtos básicos), aumento da cesta de produtos vendáveis com qualidade, entre outros, vêm sustentando a competitividade das cooperativas das regiões Sul e Sudeste. Por fim, é bom ficar de olho nas emergentes e profissionalizadas cooperativas do Brasil Central, que aos poucos vão ganhando espaço no competitivo mercado exportador de commodities do agronegócio.