Título: Com 61 viagens ao exterior, Lula supera FHC
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Opinião, p. A10

Na próxima semana, quando deixar a Venezuela e aterrissar em Guiana e, depois, Suriname, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá fechado o círculo de visitas a todos os países da América do Sul. Com mais essa saída do Brasil, Lula completará a marca de 61 viagens oficiais ao exterior. Serão 39 nações visitadas em dois anos e quase dois meses de mandato. Lula continua batendo de longe o recorde do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que mantinha o título de presidente com mais viagens internacionais no currículo. No mesmo período de governo, FHC havia feito 37 viagens a 24 países. Lula já passou 114 dias fora do Brasil, praticamente quatro meses do mandato. Este ano, o novo avião presidencial, o Airbus Corporate Jetliner (de US$ 56,7 milhões), deverá levar o presidente para mais treze países. Rússia, Japão, Coréia do Sul e Reino Unido estão na lista dos destinos previstos. O presidente também quer voltar à África - desta vez para Nigéria, Gana, Guiné Bissau e Senegal. Em julho, deve ir à França para mais uma visita oficial e pode aproveitar para esticar até a Itália, onde nunca esteve. O governo de Silvio Berlusconi está ressentido e já manifestou o interesse de que Lula visite o país. Em oito anos de mandato, FHC também rodou o mundo, mas não concluiu América do Sul - ficou faltando justamente Suriname - e não privilegiou o continente africano, só foi a Angola, Moçambique e África do Sul. Além de não ter conseguido incluir o Oriente Médio no mapa das viagens. Duas vezes, no segundo mandato de FHC, foram planejadas e canceladas viagens a Israel e Líbano. Depois que foi ao Oriente Médio, Lula costuma ressaltar, sempre que pode, que, antes dele, o último líder brasileiro a fazer uma viagem oficial à região foi Dom Pedro II. Antes de assumir o governo, Lula criticava FHC por viajar demais ao exterior e não privilegiar o Brasil. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, ex-ministro de FHC, ressalta que Lula foi "leviano" ao condenar, no passado, as viagens do ex-presidente. O senador tucano avalia que Lula faz uma política externa "inconsistente e viaja à toa". "O presidente Lula gasta dinheiro e perde tempo, por exemplo, com ditador do Gabão", lembrou. "Lula viaja para posar de líder pobre e para defender uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU." O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, avalia que as viagens internacionais de Lula estão sendo bem mais proveitosas do que as do governo anterior. "Nossa política externa está longe de ser um exercício de prestígio pessoal do presidente ou perfumaria. A política externa é essencial como instrumento de proteção do país e de garantia de uma inserção diferente." Como resultados da política externa, o assessor cita como exemplos as iniciativas de combate à fome que estão mobilizando várias nações, as propostas de reformulação do Fundo Monetário Internacional que estão sendo aceitas e a formação do G-20 (bloco dos países em desenvolvimento - grandes produtores agrícolas) e que agora terá a participação do Uruguai. O assessor do presidente cita a consolidação e ampliação do Mercosul, o apoio crescente às teses de reforma das Nações Unidas e a expansão do comércio exterior para os países que fizeram parte do roteiro do presidente. "Na verdade, o grande mascate hoje do Brasil é o presidente Lula." Garcia também lembra que Lula sempre tem a preocupação de viajar para o exterior acompanhado do empresariado. Para a Venezuela, no domingo, vai uma comitiva de 30 a 40 empresários ligados a setores como mineração e construção civil. Segundo o assessor, no início de março, Lula irá ao Uruguai onde inaugurará uma fábrica da Ambev e posse do novo presidente Tabaré Vázquez. Este ano, além de manter as viagens internacionais, Lula dará prioridade às viagens nacionais: quer continuar viajando pelo país pelo menos uma vez por semana, de preferência para o lançamento de programas sociais e obras de infra-estrutura, como hoje, quando estará nas cidades pernambucanas de Surubim e Caruaru para inauguração de um sistema adutor e de uma clínica que faz parte do Brasil Sorridente. Desde que assumiu o cargo, Lula já fez 176 viagens pelo Brasil, das quais 59 (33%) foram para o Estado de São Paulo. Rio de Janeiro foi o segundo Estado mais percorrido, seguido por Minas e Rio Grande do Sul. Em dois anos, Lula já foi mais vezes às terras gaúchas (10 viagens) do que o ex-presidente FHC em oito anos (nove viagens). Até agora, o presidente só não foi para o Amapá, do governador Waldez Góes (PDT); Tocantins, do tucano Marcelo Miranda; e Roraima, do governador Ottomar Pinto (PTB), que conseguiu na Justiça Eleitoral o direito de assumir o governo no lugar do cassado Flamarion Portela, afastado do PT.