Título: Candidatura de Perez del Castillo à OMC deve ser mantida pelo Uruguai
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Especial, p. A10

O novo governo uruguaio, presidido pelo socialista Tabaré Vasquez, dificilmente retirará a candidatura do também uruguaio Carlos Perez del Castillo, à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que é disputada também pelo brasileiro Luis Felipe de Seixas Corrêa. Essa foi a impressão deixada entre os diplomatas brasileiros pelo ministro de Relações Exteriores escolhido por Vasques, Reinaldo Gargano, após reunião e almoço ontem, com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Ter um só candidato (do Mercosul à OMC) seria bom, mas a realidade é outra", comentou Gargano, à saída do encontro. Ele também evitou confirmar se o novo governo aprovará ou não o acordo de proteção a investimentos assinado entre Uruguai e Estados Unidos, em novembro, pouco antes das eleições, pelo presidente Jorge Battle. O acordo foi, na época, fortemente criticado pela Frente Ampla, patrocinadora da candidatura de Tabaré Vasquez, que assumirá o governo em 1º de março. Depois de eleito, Vasques passou a ser reticente em relação ao tema, repetindo um bordão que Gargano também ecoou ontem: o novo governo ainda não conhece em detalhes o acordo com os EUA, "muito complexo, com cinco anexos", e precisa estudá-lo melhor para decidir o que fazer. "Precisamos que haja investidores no Uruguai e que tenham a mesma proteção que têm os uruguaios", comentou. Embora a candidatura de Perez del Castillo à OMC tenha sido lançada no governo Battle, que saiu do país com um baixíssimo índice de popularidade, o novo governo encontra dificuldades para modificá-la. Perez del Castillo promoveu, desde o lançamento de seu nome para a OMC, intensa articulação política na sociedade uruguaia, a ponto de até jornais de oposição defenderem seu nome. O governo Lula rejeita Castillo por seu papel como presidente do Conselho-Geral da OMC, durante a reunião ministerial da organização, em Cancún, em 2003, quando a proposta elaborada por ele para solucionar os impasses na negociação sobre agricultura foi considerada por um grupo de países, entre eles o Brasil, prejudicial aos interesses dos países em desenvolvimento e mais favorável às estratégias negociadoras dos EUA e da União Européia. Gargano reafirmou, porém, uma boa notícia para os negociadores brasileiros: o Uruguai aderirá ao G-20, grupo que defende os interesses dos países em desenvolvimento nas discussões sobre agricultura da atual rodada de negociações comerciais. Gargano informou que a conversa de ontem com Amorim não incluiu a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas que os dois chanceleres falaram sobre as negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Ele disse que a prioridade no relacionamento do país com o Brasil será a integração do Mercosul, com a eliminação das exceções à tarifa externa comum e a criação de condições para integrar as indústrias dos quatro países.