Título: Diplomata brasileiro estranha posição dos EUA de não negociar acordo com Mercosul
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Especial, p. A10

O principal negociador brasileiro na Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Régis Arslanian, disse "estranhar" as declarações de autoridades do governo dos Estados Unidos, contrárias à proposta apresentada pelo Brasil, de iniciar negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e os EUA. "Não entendemos porque os EUA negociam acordos com todos os outros participantes da Alca e não querem fazer com a gente", ironizou Arslanian. "Não estamos propondo nada contra a Alca, apenas queremos adiantar as negociações de acesso a mercados, sobre redução de tarifas e barreiras a mercadorias e serviços." Nos últimos dias, o embaixador dos EUA no Brasil, John Danilovich, e o vice-representante de Comércio dos EUA, Peter Allgeier, afirmaram que o país só tem interesse em discutir acesso a mercados para o Mercosul no âmbito da Alca. Segundo um funcionário do governo americano, não interessa ao governo Bush um acordo de livre comércio que se limite a reduzir barreiras ao comércio de mercadorias e serviços. Os EUA preferem falar com o Mercosul na Alca por acreditarem que é o único espaço em que poderão incluir temas já incorporados nos acordos com outros países do continente, como regras mais rígidas sobre propriedade intelectual, com a possibilidade de retaliações comerciais em caso de descumprimento. Recém-chegado do Canadá, onde acompanhou uma delegação do Mercosul para iniciar conversas sobre um acordo de livre comércio com os canadenses, o diplomata brasileiro se mostrou surpreso também com notícias de que haveria resistências do governo do primeiro-ministro Paul Martin à proposta de um acordo de livre comércio, em paralelo à Alca. Um jornal brasileiro chegou a transcrever declarações do ministro do Comércio do Canadá, Jim Peterson, afirmando ser prematuro falar em negociações para um acordo 4+1 e declarando prioridade para a Alca. Os termos usados pelos dois países para falar das negociações lançadas na segunda-feira, em Ottawa, dão margem ao ceticismo em relação à disposição dos canadenses. Na declaração formal após o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro Paul Martin, os dois chefes de Estado concordaram em lançar negociações de livre mercado "no contexto (framework) da Alca". A mesma expressão surgiu na segunda-feira, nos relatos oficiais do encontro da equipe canadense, chefiada por Jim Peterson, com a do Mercosul, liderada pela ministra de Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid. "Não faria sentido começarmos contatos no Mercosul, no governo e com empresários, para fazer ofertas aos canadenses, se essa negociação for condicional, depender do que acontecer na Alca", disse Asrlanian. Ele terá, na próxima quinta-feira, uma reunião com a Coalizão Empresarial para analisar o possível acordo com os canadenses. Os canadenses marcaram para abril, em Assunção, a próxima reunião dos negociadores. (S.L.)