Título: Patrus agradece a Deus e a Lula em discurso de candidato
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Política, p. A18

Um dos presidenciáveis do PT em 2010, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, fez ontem um discurso de candidato durante solenidade de comemoração de quatro anos de sua Pasta. Numa intervenção de quase uma hora, Patrus, que é ligado à Igreja Católica, disse que, em momentos críticos - nos mais graves, especialmente - foi "Deus quem salvou o Bolsa Família e o próprio ministério da extinção". Depois de Deus, Patrus agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que uniu, em 2004, em uma mesma Pasta, os programas de transferência de renda, assistência social e segurança alimentar e nutricional.

Segundo Patrus, especialmente no primeiro ano de existência, o "barquinho do ministério parecia tão frágil e enfrentava situações tão complexas e difíceis que alguns acreditavam que ia naufragar". Mas o presidente Lula, segundo o ministro, era fundamental em momentos como esses. "Quando as críticas se tornavam avassaladoras, o presidente se colocava de peito aberto para defender os nossos programas".

O ministro estava empolgado, mas reclamou que seu ministério tem apenas 1,3 mil servidores, um grupo heróico, responsável por cuidar de 6 mil municípios e atender 55 milhões de pessoas. "Somos um grupo de servidores destemidos, sob a liderança do presidente Lula, que está mudando o horizonte da assistência social do Brasil". O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, confirmou que será autorizado um concurso com 2,2 mil vagas para gestores - especialmente para o MDS e Ministério da Saúde - com salários iniciais de R$ 5,5 mil.

Enquanto Lula se impacientava com o horário, Patrus, que assinou uma série de decretos e portarias, dentre elas uma que permite a abertura de contas de beneficiários do Bolsa Família na Caixa Econômica Federal, prosseguia seu discurso. "A que veio o nosso governo, a que veio o presidente Lula e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome? Ouso dizer que, em breve, teremos de mudar o nome para Ministério de Combate à Pobreza, porque a Fome já estamos vencendo".

Mas não foi apenas da sua área que Patrus falou. Ele criticou a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, "privatizada a um preço muito aquém do qual era avaliada pelo mercado". Atacou o Legislativo, afirmando que o MDS até hoje sofre com a derrota (mas as verbas do ministério não foram reduzidas) imposta pela oposição ao rejeitar a emenda que prorrogava a CPMF. Defendeu impostos mais justos, que os ricos paguem mais e que os pobres saibam toda a carga tributária embutida nos produtos que consomem. E concluiu: "Já estamos trabalhando para os pobres e pelos pobres, mas precisamos começar a trabalhar mais com os pobres".

Lula não alimentou o discurso de candidato de seu ministro. Diferente da semana passada, quando batizou a chefe da Casa Civil, a ministra Dilma Rousseff - outra presidenciável do PT - de "mãe do PAC", praticamente lançando seu nome pra as disputas eleitorais, Lula foi bem mais comedido nos elogios a Patrus. "Eu não poderia terminar, Patrus, sem agradecer de coração a lealdade, o compromisso, a sua dedicação e de sua equipe".

O presidente repetiu um conceito que utilizou muito em campanha. Em sua opinião, o maior desafio da Pasta, ao longo deste tempo, foi "enfrentar o preconceito que está arraigado na cabeça de uma parte da elite brasileira que acha que tudo que a gente dá para ela é investimento e tudo o que a gente dá para os pobres é gasto".

Lula disse que era preciso acabar com a idéia de que o pobre é massa de manobra. "O que nós precisamos fazer agora é consolidar um processo tão forte da relação Estado e Sociedade que, quem vier depois de nós tem que atender às necessidades prioritárias do povo brasileiro". Nesse momento, ao ouvir "quem vier depois de nós", alguém da platéia gritou: "Dilma". Lula não respondeu.