Título: Reino Unido elimina incentivo a biocombustíveis
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Internacional, p. A19

O Reino Unido anunciou ontem a eliminação de incentivos fiscais para o uso de biocombustíveis. Segundo uma fonte familiarizada com a decisão, ouvida pela agência de notícias Bloomberg, há dúvidas no governo sobre a sustentabilidade dos biocombustíveis. O seu benefício ambiental foi contestado por estudos recentes.

Esses estudos advertem que os biocombustíveis podem até gerar mais emissões de gases associados ao aquecimento global do que fontes fósseis de energia.

A medida britânica pode ser um primeiro passo para que outros países da União Européia comecem a questionar a eficácia ambiental dos biocombustíveis.

A eliminação dos incentivos está contida no Orçamento do governo, apresentado ontem pelo ministro das Finanças britânico, Alistair Darling. O Orçamento prevê ainda aumento de impostos sobre os combustíveis em geral e sobre carros muito poluentes, e isenção para os carros mais eficientes.

Segundo analistas, o fim do estímulo fiscal inviabiliza programas de E85, uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina, e consequentemente o uso de carros flex.

O Reino Unido tem como meta reduzir as emissões dos carros em um terço até 2030. No lugar dos incentivos fiscais ao etanol, que custariam 550 milhões de libras até 2010, o governo vai seguir uma nova política de misturar até 5% de biocombustíveis na gasolina e no diesel até aquele ano.

Legisladores da União Européia e dos EUA vêem nos biocombustíveis uma arma para o combate ao aquecimento global. Mas um estudo da Universidade de Minnesota, nos EUA, publicado em fevereiro pela revista "Science", aponta que a conversão de florestas no Brasil, no Sudeste Asiático e nos EUA para cultivo de grãos e outras plantas usados como matéria-prima para biocombustíveis podem gerar emissões de dióxido de carbono maiores do que o que se deixa de gerar com combustíveis fósseis.

Segundo o estudo, a derrubada de florestas que absorvem o carbono da atmosfera para o plantio de grãos criaria uma "dívida de carbono" que pode durar séculos para ser compensada, elevando o nível de carbono justamente agora quando o problema é mais grave. No caso da soja plantada em áreas de floresta tropical derrubada, diz o estudo, a "dívida" levaria 320 anos para ser "paga". No caso da cana em áreas de cerrado, 17 anos.

Segundo a fonte ouvida pela Bloomberg, a intenção do governo britânico é ajudar a frear o avanço de plantações em áreas de floresta com o uso excessivo de pesticidas.