Título: Lula elogia Chávez por resolução de crise
Autor: Lyra , Paulo de Tarso ; Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Internacional, p. A19

Pela primeira vez desde que estourou a crise entre Colômbia e Equador, com mobilização de tropas pela Venezuela e a aposta brasileira por uma solução diplomática, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez conversaram ontem por telefone, durante 40 minutos. Na semana passada, Chávez tentou falar mais de uma vez com Lula, mas o presidente brasileiro adotou a estratégia de não legitimar o venezuelano como interlocutor no conflito, restringindo a crise a um problema bilateral, entre Colômbia e Equador.

Segundo auxiliares diretos de Lula, o presidente deu o problema por encerrado e elogiou a postura de Chávez na reunião do Grupo do Rio, na República Dominicana, quando ele se dispôs a apertar as mãos do colombiano Álvaro Uribe, e a reatar as relações diplomáticas. O presidente do Equador, Rafael Correa, seguiu os mesmos passos. Em contrapartida, Chávez ressaltou a Lula o papel do chanceler Celso Amorim, que sugeriu a intermediação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e se empenhou por uma resolução de Washington.

Chávez disse a Lula que as relações com a Colômbia já estão normalizadas, segundo assessores do Planalto. Os dois devem se encontrar ainda neste mês, no dia 26, numa visita à refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Trata-se de uma associação entre a Petrobras e a PDVSA, em que a estatal brasileira terá 60% na empresa binacional que será constituída. A refinaria processará petróleo pesado da bacia venezuelana do Orinoco.

Lula sugeriu ainda que Chávez conheça os programas tocados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e a idéia dos Territórios de Cidadania, "um dos mais ousados programas lançados pelo governo brasileiro", segundo o presidente brasileiro. Chávez prometeu que, quando for a Recife, será acompanhado por um conjunto de técnicos e ministros de áreas correlatas.

Para Lula, a superação da crise foi crucial para passar ao mundo a imagem de que a América do Sul não deseja um conflito bélico. O governo brasileiro agora pretende intensificar as discussões para a criação de um conselho sul-americano de segurança, com um mecanismo permanente de cooperação e diálogo na área de defesa. Não se trata, porém, de uma espécie de Otan da América do Sul, como já sugeriu várias vezes o presidente Chávez.