Título: Crédito avança sem inadimplência
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Finanças, p. C1

Ao contrário de outros períodos, o crédito avançou em 2007 sem a companhia da inadimplência. O saldo das operações de empréstimos cresceu, nos últimos doze meses até janeiro, a uma taxa de 27,9%, chegando a R$ 944,2 bilhões. No mesmo período, a taxa de crédito em atraso há mais de 90 dias ficou em 3,2% em janeiro, em relação aos 3,8% no mesmo mês do ano passado. Entre as empresas, caiu de 2,8% para 2%. Entre as pessoas físicas, grande termômetro do mercado para medir o comportamento futuro do crédito, essa relação caiu de 7,5% para 7,1%.

Em 1994, início do Real e da estabilidade econômica, os bancos ampliaram a oferta de crédito e a inadimplência disparou. Anos depois, em março de 2000, voltou a crescer e superou os 10%. Novamente, em 2005, com a retomada do crescimento, os bancos elevaram as concessões, mas tiveram de recuar, pressionados pela disparada dos índices de atrasos nas parcelas, que atingiram 4%. Agora, a situação está controlada e as taxas, decrescentes.

Não é só a inadimplência que permanece sob controle. A qualidade das carteiras apresenta sensível melhora. Os empréstimos bancários são divididos pelo BC em faixas de risco de acordo com o atraso das parcelas. Operações classificadas entre "AA" e "C" são consideradas de nível baixo. O percentual da carteira dos bancos que está nesse nível de risco subiu de 90,8%, em janeiro de 2007, para 91,8%, no primeiro mês desse ano, indicando que reduziu o número de parcelas em atraso. No mesmo período, o total de empréstimos com atraso superior a 90 dias, classificados como nível de risco "H", o mais grave, caiu de 3,7% do total da carteira para 3,2%, no mês de janeiro. Luiz Gustavo Braz Laje, diretor de crédito do Banco do Brasil, lembra que a situação macroeconômica, com estabilidade, favorece esse cenário. "As famílias e as empresas têm maior capacidade de endividamento e uma melhor condição para planejar o futuro."

Roberto Lamy, diretor de crédito e risco de varejo do Unibanco, também vê situação melhor. "A situação é diversa do passado. Antes o prazo era menor e a economia tinha menos gás do que tem hoje." João Consiglio, diretor-executivo do Banco Real, disse que, em um cenário de crescimento econômico forte, as taxas de atrasos ficam menores. "Mesmo com o crescimento forte, temos mantido qualidade boa do credito", afirma . "Esse é o nosso trabalho: emprestar, pegar de volta e emprestar novamente", brinca.

Colaboram para a redução do custo do crédito as taxas de juros mais baixas, prazos mais longos, além da melhoria da massa salarial da população, afirma Ademir Cossiello, diretor-executivo do Bradesco. "Ninguém deixa de pagar porque quer. Deixa de pagar quando não tem renda", diz.

Mesmo entre as empresas, os atrasos caíram. As linhas de capital de giro, por exemplo, cujo saldo total subiu quase 50% no ano passado, tiveram queda na inadimplência de 2,8% para 1,6%. Boa parte disso se deve a novas estruturas de garantias, vinculadas a recebíveis de cartões, afirma Cossiello, lembrando a importância da Central de Risco de Crédito (CRC), implantada em 1997 e gerenciada pelo Banco Central.