Título: Emissão de cartões é recorde no varejo
Autor: Junior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Finanças, p. C9

Quem entra em uma loja de departamento ou um supermercado tem grandes chances de sair de lá com um novo cartão de crédito. Puxado pelo aumento das vendas no varejo, as grandes redes nunca emitiram tantos plásticos. No Carrefour e no Magazine Luiza, por exemplo, a média mensal chega a 100 mil cartões, boa parte deles para pessoas de baixa renda, que na maioria dos casos estão adquirindo seu primeiro cartão.

Para atrair este público, as redes oferecem cartões sem anuidade e garantem que não há cobrança de taxas "escondidas", como a tarifa de emissão da fatura. Além disso, costumam oferecer produtos com preços menores para quem tem o cartão com a marca da loja e condições melhores de financiamento, com prazos mais longos. No Magazine Luiza, 100% dos funcionários podem oferecer o cartão aos clientes.

O Carrefour começou em 1989 vendendo cartões próprios (chamados de "private label"), que só podem ser usados nas suas lojas. Chegou a 8,5 milhões destes cartões (dos quais 1,5 milhão não são ativos) - o Brasil já responde por quase metade da base mundial de cartões do grupo.

Para ampliar as operações nos meios eletrônicos de pagamentos, a rede francesa fechou no ano passado um acordo com a Visa e passou a emitir cartões da bandeira. Em um primeiro momento, apenas oferecendo via telefone, emitiu 150 mil plásticos Visa. Em abril, começa a oferecer o cartão nas lojas. Além disso, negocia uma parceria com a MasterCard, para oferecer ainda este ano as duas bandeiras.

"Notamos que 83% dos nossos clientes têm cartões com bandeira, por isso queremos oferecer as duas opções", afirma Caíque Mello, presidente do Carrefour Soluções Financeiras, nome dado ao banco da rede.

A rede Magazine Luiza começou sua experiência com cartões no ano passado. Por meio de uma parceria com a MasterCard, já emitiu 720 mil unidades desde julho. A meta é chegar a uma base de 4 milhões de cartões até 2010, conta Frederico Trajano, diretor de vendas e marketing do Magazine. Segundo ele, em alguns meses as emissões chegam a bater na casa de 100 mil cartões. "Este número ainda é pequeno perto do potencial. Podemos fazer o dobro disso", afirma ele. No Magazine Luiza, quem tem o cartão da casa, pode financiar as compras em até 24 vezes.

A febre do cartão de crédito chegou também a redes de menor porte. A rede de brinquedos Ri-Happy, com 82 lojas pelo país, começou em janeiro do ano passado a oferecer cartão Visa por meio de uma acordo com o Banco do Brasil. Emitiu 44 mil plásticos até agora, dos quais mais de 70% foram ativados.

Ricardo Sayon, presidente da rede, conta um fato curioso. Presente em vários shoppings de luxo em São Paulo, a filial que mais emitiu cartões foi a de Natal (RN), principalmente para o público das classes C e D. Em seguida veio a loja de João Pessoa. As lojas dos bairros de alta renda da capital paulista, como Moema ou o Shopping Iguatemi, estão lá em baixo no ranking dos maiores emissores. "Rico não quer mais cartão nem de graça", diz ele.

Para incentivar as vendas na Ri-Happy, há um esquema de premiação e remuneração aos funcionários da rede. Por cartão ativado, por exemplo, o funcionário ganha R$ 4, disse o executivo, que participou ontem do seminário "Cartões e Meios de Pagamentos", promovido pela empresa International Quality & Productivity Center.

Segundo projeções da Itaucard, o Brasil deve encerrar o primeiro trimestre com uma base de 94,7 milhões de cartões de crédito, nada menos que 12 milhões de unidades a mais que no final de março de 2007. O faturamento deve crescer 22%.

Os cartões de loja e rede (que só podem ser usados nos seus estabelecimentos) fecharam dezembro em 142 milhões de unidades, expansão de 22% em relação a 2006, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).