Título: Vale já revê planos de captação para 2008
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Especial, p. F8

Depois de fazer operações de emissão de bônus de 10 e 30 anos, lançar debêntures de 4 e 7 anos e tomar um pré-pagamento à exportação para alongar o empréstimo-ponte de US$ 18 bilhões feito para comprar a canadense Inco, no final de 2006, a Vale está revendo o volume de captações para este ano. O principal fator que levou a essa reavaliação foi o aumento de preço do minério de ferro acertado com seus clientes, informou o diretor-executivo de finanças, Fábio Barbosa.

A empresa conseguiu elevar o preço do minério de ferro para 2008 entre 65% e 71%, dependendo da fonte de produção. O mais caro é o minério do tipo fino produzido em Carajás, no Pará. Essa negociação bem-sucedida vai permitir à Vale gerar um caixa adicional de aproximadamente US$ 10 bilhões, fruto da programação de uma produção de 325 milhões de toneladas de minério de ferro até dezembro.

Os investimentos programados pela empresa para 2008 somam US$ 11 bilhões. Os planos da companhia comportam ainda este ano novas aquisições, como a da Xstrata, uma mineradora anglo-suíça com a qual a Vale está negociando. Se essa operação for concluída, a Vale terá que obter financiamento de US$ 50 bilhões junto a bancos. Barbosa evita comentar a operação.

Em 2007, a Vale foi, pelo segundo ano consecutivo, a líder no ranking de "Emissores/tomadores" de dívida externa do Valor, com um total de US$ 6,65 bilhões em crédito externo tomados durante o ano passado. O destaque foi o pré-pagamento de US$ 6 bilhões liquidado em janeiro para rolar o gigantesco empréstimo tomado para comprar a Inco em 2006.

Para 2008, Barbosa prevê a busca de recursos em várias instituições. Com algumas, as conversas já estão bastante avançadas, enquanto outras ainda dependem de negociação.

"Estamos em discussões com bancos e com agências de crédito de exportação buscando viabilizar linhas de mais longo prazo", diz ele. "Essa discussão está em andamento e pode ser concluída a qualquer momento", afirma.

Em princípio, porém, a empresa pode adiar qualquer captação no primeiro semestre, pois Barbosa avalia que ainda há bastante volatilidade no mercado. "Nós preferiríamos esperar um pouco para reduzir esta volatilidade, que pode atrapalhar o preço final dos lançamentos", explicou o diretor-executivo da Vale.

Para ele, este não é o momento ideal para se buscar operações do tipo bônus no mercado, devido à falta de liquidez. Se a empresa fizer alguma captação no curto prazo, será via agências de crédito às exportações.

Barbosa ressaltou que pelo fato de a Vale ter grau de investimento junto às agências de risco, ela tem acesso diferenciado a crédito de boa qualidade. "Se quiséssemos, teríamos o privilégio de até buscar crédito de boa qualidade no mercado, mas mesmo para esse tipo de recurso, considero que o momento é o menos indicado", avalia. "Se temos oportunidade de esperar, como temos, acho que é mais apropriado aguardar o mercado melhorar".

Já no caso de um eventual acordo para uma aquisição, como por exemplo a compra da Xstrata, a Vale poderá partir para negociações específicas de financiamento, admitiu Barbosa. "Se e quando considerarmos uma possível aquisição, nós vamos buscar um financiamento específico", afirma ele.

Barbosa é lacônico quando questionado sobre o empréstimo de US$ 50 bilhões que já estaria acertado com um "pool" de bancos caso a compra da Xstrata se concretize.

Em 2007, a Vale teve lucro recorde de US$ 11,8 bilhões e uma geração de caixa medida pelo Lajida (lucro antes dos juros, Imposto de Renda, depreciação e amortização) de US$ 16,8 bilhões. Essa geração de caixa ajudou a reduzir o endividamento. Em 31 de dezembro, a dívida total da Vale era de US$ 19 bilhões em relação aos US$ 22,5 bilhões no final de 2006. A dívida líquida no final de 2007 era de US$ 17,9 bilhões, na comparação com os US$ 18,1 bilhões em 2006.

Com esses resultados, a relação dívida total/Lajida recuou de 2 vezes para 1,1 vez no final de 2007, apontando para uma rápida desalavancagem após o aumento da dívida da Vale provocada pelo financiamento para compra da Inco.

Essa queda da relação dívida/Lajida torna a situação da Vale mais confortável no caso de compra da Xstrata, pela qual a companhia deverá desembolsar quase US$ 90 bilhões, dos quais US$ 50 bilhões à vista e o restante em ações preferenciais do tipo A, sem direito à "tag along", que promove a extensão do prêmio de controle aos acionistas minoritários.

O grande receio da Vale na compra da Xstrata é perder o grau de investimento que lhe foi dado pelas agências de classificação de risco. A Vale não se pronuncia sobre o assunto, mas Barbosa reconhece que para manter o grau de investimento há um limite de endividamento. "Alavancagem para pagar dividendo é uma coisa, alavancagem para comprar um ativo é diferente. Cada caso é um caso. Mas, diria que muita dívida, em geral, as agências de risco não gostam", pondera o executivo.