Título: Petrobras planeja obter mais US$ 5 bi para investimentos
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2008, Especial, p. F9

Líder na emissão de bônus no ano que passou, a Petrobras tem um plano de investimentos robusto para este ano: R$ 54,865 bilhões, 21% a mais que os R$ 45,3 bilhões investidos no ano anterior. Para fazer frente a esses gastos ela pretende engordar seu caixa com mais US$ 5 bilhões até o fim de 2008. Esse valor vai se somar aos US$ 750 milhões em títulos - eurobônus - que foram emitidos em janeiro deste ano e aos US$ 2,2 bilhões emprestados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado e que serão desembolsados ao longo deste ano.

Almir Barbassa, diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, explica que a companhia vai contar com US$ 10 bilhões este ano, contabilizando os empréstimos que contratou no ano passado para desembolso este ano, o que ela já captou e o que ainda pretende captar em 2008.

O diretor adianta que o principal objetivo da companhia é buscar recursos junto ao mercado de capitais, preferencialmente no exterior. "Pode ser aqui (no Brasil), mas o mais provável é que seja lá fora", afirmou o experiente executivo. "Vamos olhar as oportunidades e escolher onde for mais líquido e atrativo", explicou Barbassa ao Valor.

Um alvo potencial da companhia este ano são as agências de crédito às exportações dos países ricos, as Export Credit Agencies (ECAs), segundo diz Barbassa. Segundo ele, as ECAs melhoraram a análise de risco da companhia. "Elas são uma boa alternativa", frisa o executivo. Antes da crise de hipotecas americanas ter contaminado o mercado de crédito, os bancos e investidores vinham oferecendo prêmios de risco tão baixo que as ECAs haviam se tornado pouco competitivas. Agora, com os spreads de risco-Brasil em alta, as ECAs voltam a ganhar destaque, possibilitando redução nos juros e aumento nos prazos dos financiamentos.

O mercado japonês, onde a Petrobras comprou uma refinaria no ano passado, também é visto como atrativo por Almir Barbassa. Afinal, a planta de Okinawa vai servir não apenas como base para estoques na Ásia - ela tem capacidade de estocar 9,6 milhões de barris de produtos - como também vai consumir 100 mil barris por dia de petróleo para produzir combustíveis. Por meio dela, uma porta se abre para os produtos da Petrobras naquele país.

"Hoje não vendemos nada para o Japão", comenta Barbassa. "Mas, com a refinaria lá vamos nos tornar uma alternativa, seremos supridores do mercado japonês", diz o diretor, explicando que o petróleo bruto para atender essa refinaria será comprado no mercado internacional tendo em vista o preço mais em conta, independentemente da origem, que pode não ser o petróleo brasileiro ou produzido pela companhia na Nigéria.

Com a internacionalização da Petrobras, a área de "trading" também vem se expandindo. A base criada em Cingapura se tornou uma subsidiária e a empresa passou a ter uma área para tancagem de produtos em Roterdã, na Holanda. A ela se somam as bases em Londres, Houston e no Caribe. "Estamos nos preparando para aumentar as exportações de produtos a partir do Brasil e analisando a aquisição de novas refinarias", antecipa o executivo, sem entrar em mais detalhes.

Em 2007 a Petrobras captou US$ 1,7 bilhão em três operações de eurobônus. Em uma troca voluntária de dívida em janeiro, sob a liderança do Morgan Stanley e do UBS Pactual, lançou um total de US$ 399,1 milhões. Os papéis, de vencimento em outubro de 2016, pagaram cupom (juro nominal) de 6,125% ao ano. Depois, a Petrobras Energia, subsidiária da Petrobras na Argentina, lançou US$ 300 milhões, com vencimento em 2017, pagando 5,926% ao ano de rendimento e 5,875% de cupom. Por fim, mesmo depois de a crise de hipotecas atingir os mercados financeiros internacionais, a Petrobras aproveitou janela e emitiu US$ 1 bilhão em outubro, sob a liderança do Citigroup e do UBS Pactual, e pagou rendimento de 6,059% ao ano para o investidor pelo vencimento em 1 de março de 2018.

A gigante do petróleo também pegou empréstimo no BNDES para os investimentos na rede de gasodutos que forma o Gasene e vai ligar a malha de gasodutos do Sudeste com a malha Nordeste; e no gasoduto Urucu-Manaus, no Amazonas. Outros US$ 2,3 bilhões vieram de bancos, o que somou captações no total de US$ 6,2 bilhões.

A onda de investimentos - no ano passado a Petrobras comprou do Grupo Ipiranga (com a Braskem e o Ultra) e da Suzano Petroquímica - mudou a estratégia que a companhia vinha adotando o ano anterior, quando vinha acumulando dinheiro em caixa. Nos dois últimos anos, o lucro antes dos juros, Imposto de Renda, depreciação e amortização (Lajida) superou R$ 50 bilhões. No ano passado a Petrobras pagou dívidas no valor de R$ 7 bilhões, o que reduziu o endividamento bruto de R$ 46,6 bilhões para R$ 39,7 bilhões. A dívida de curto prazo caiu de R$ 13 bilhões para R$ 8,9 bilhões. Com isso, o dinheiro em caixa e as aplicações financeiras, de R$ 27,8 bilhões em 2006, foram a R$ 13 bilhões.

"Diminuímos a dívida total e melhoramos o perfil", comentou Barbassa. "Já a dívida líquida aumentou porque aumentamos o investimento sem aumentar as captações", disse ele. "Usamos o caixa para investir", ressaltou.

Mesmo assim a relação entre o endividamento líquido e o Lajida fechou 2007 em 53%, o que, segundo o diretor, significa que em pouco mais de meio ano a Petrobras gera o suficiente para pagar sua dívida líquida. A alavancagem medida pelo endividamento líquido e pelo patrimônio líquido era de 19% em 31 de dezembro, em relação a 16% no final de 2006. Barbassa afirma que o percentual é baixo. "Para nós o ideal é que ficasse entre 30% e 35%", afirma.

Para 2008 a companhia destinou R$ 25,9 bilhões somente para a área de exploração e produção de petróleo. Esse valor inclui R$ 2,2 bilhões para plataformas em construção ou já entregues para desenvolver a produção de petróleo nos campos de Marlim Sul, Marlim Leste, Frade e os campos de Ostra, Argonauta e Abalone, e Jubarte.

Os investimentos previstos não incluem ainda o plano de desenvolvimento da produção dos campos gigantes descobertos na chamada faixa "pré-sal" da bacia de Santos, entre eles os campos apelidados de Tupi e Júpiter. Eles vão aumentar exponencialmente os investimentos da companhia, mas apenas depois que tiverem sua comercialidade declarada, o que deve acontecer no final de 2009 e início de 2010.