Título: Marta diz a Lula que vai disputar em São Paulo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso ; Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2008, Política, p. A11

A ministra do Turismo, Marta Suplicy, comunicou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do seu partido, que será a candidata do PT à Prefeitura de São Paulo nas eleições deste ano. Lula respondeu que respeita a decisão da ministra - uma escolha pessoal dela, frisou. Acrescentou que dará total apoio à petista, mas afirmou que ela não precisa ter pressa para deixar o ministério e fazer campanha. Pela legislação, essa desincompatibilização precisa ser feita até o dia 5 de junho, quatro meses antes da disputa municipal.

Assessores do ministério afirmaram que era nítida a felicidade da ministra, ao voltar ao gabinete depois da reunião com Lula. A saída da prefeita para concorrer à prefeitura paulistana já era esperada desde o início do ano. Um ministro palaciano confirmou, há quase dois meses, que apenas ela e Luiz Marinho, ministro do Trabalho, deixariam o governo para concorrer às eleições municipais.

Lula queria, num primeiro momento, que Marta ficasse os quatro anos no cargo. Mas, deixou claro que a mudança de planos não significa que ele esteja fraquejando de suas convicções. Avisou que não quer ver Marta discutindo o seu sucessor na Pasta e também não aceitou qualquer debate sobre a possibilidade, em caso de derrota, de um retorno para a Esplanada.

Na visão dos aliados da ministra, isso não significaria que, na prática, Marta, se derrotada, vai ser abandonada pelo presidente. "Lula é muito sofisticado no raciocínio político, da mesma forma que ele abraça, ele empurra. Quis deixar claro que as decisões políticas devem passar por ele", afirmou um petista.

Marta aproveitou para convidar Lula para um dos eventos que considera prioritários e uma das marcas de sua gestão: a possibilidade de aposentados viajarem pelo país a preços mais baixos. No dia 4 de abril, no Guarujá (SP), será anunciado o programa Viaje Mais, que concederá desconto de 50% nas passagens de avião para aposentados nos períodos de baixa temporada. Avisou ainda que irá para a China, em breve, acompanhar os preparativos para a Olimpíada e "importar" idéias para a realização da Copa de 2014. E, claro, vender a imagem do Brasil no gigante asiático.

Com isso, a prefeita quis demonstrar que, apesar de estar em um ministério com pouca visibilidade, buscou fazer um bom trabalho. Para quem sonhava, no começo, em ser ministra da Educação ou das Cidades, o Turismo jamais foi um local atraente. Marta e seus aliados sabem que ela está escondida na Pasta, com pouco espaço de mídia e que isso poderá prejudicar planos futuros, como a disputa para o governo do Estado ou até mesmo as prévias presidenciais em 2010.

Os petistas admitem também que, nem de longe, ela é o nome preferido do presidente, o que justifica ainda mais a decisão de concorrer à prefeitura. Assim, poderá criar um novo pólo de poder para influenciar 2010. Na visão dos martistas, a legenda está acéfala. A Executiva nacional não é representativa e Ricardo Berzoini, presidente do partido, não agrega o partido. "Nossa única liderança com força política é o Lula", resumiu um aliado da ministra.

A saída só se torna viável porque os petistas enxergam em Marta uma possibilidade concreta de vitória na disputa pela Prefeitura de São Paulo. "Se fosse para perder, era melhor para ela ficar onde está, claro", asseverou um petista. Na avaliação dos petistas, Marta está assegurada no segundo turno, já que inicia a disputa com um histórico de votações na faixa de 15 a 20%.

O problema é que, se a ex-prefeita tem piso eleitoral, ela também tem um teto, limitador na avaliação dos aliados. "Geraldo Alckmin (PSDB) pode nos vencer num eventual segundo turno. Precisamos trabalhar direito e aproveitar que o prefeito Gilberto Kassab rouba votos dele, não da Marta", disse um parlamentar paulistano.