Título: Rice pede atenção a terrorismo na fronteira
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2008, Internacional, p. A17

Em público, ela evitou, mesmo provocada, citar a Venezuela ou seu presidente, Hugo Chávez, e, ao contrário das expectativas, também foi econômica ao falar da ameaça das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc); mas, provocada por jornalistas, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, afirmou enfaticamente que o governo dos EUA tem de "estar preocupado" com o terrorismo no continente. Ela cobrou dos governos o cumprimento do compromisso na ONU de realizar "todos os esforços" para impedir atividades terroristas em suas fronteiras.

Rice visitou o Brasil a convite do chanceler Celso Amorim e incluiu apenas o Chile em sua viagem à América do Sul, em que procurou enfatizar a "agenda positiva" dos EUA no continente. Após encontrar-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem ouviu a proposta brasileira de criação de "mecanismos de solução de controvérsias" como o Conselho de Defesa Sul-Americano, restritos aos países do continente, a secretária de Estado disse não ver nenhum problema na idéia. "Não somente não tenho nenhum problema com isso, como também confio na liderança brasileira", declarou, dizendo esperar que eventuais mecanismos regionais se coordenem com outros, como a Organização dos Estados Americanos (OEA).

O governo dos EUA pretende aprofundar, na próxima reunião de ministros da OEA, em abril, na próxima semana, as questões levantadas por Rice durante a entrevista coletiva, como indicou a própria secretária ao falar para os jornalistas. Os EUA tem acusado a venezuela de apoiar as atividades terroristas no continente, mas Rice evitou responder se incluirão a Venezuela na lista oficial de governos que apóiam terroristas.

"Os esforços da OEA nas últimas semanas são importantes e têm de ser seguidos", avisou Rice, em referência às gestões que levaram à suspensão dos atritos entre Colômbia e Equador devido à invasão de tropas colombianas em território equatoriano para atacar guerrilheiros da Farc. Foi enviada uma missão para apurar o ocorrido, que levou à morte do segundo principal comandante das Farc, Raúl Reyes, e o secretário-geral da OEA, José Miguel Inzulza, declarou que os guerrilheiros aparentemente mantinham uma acampamento permanente no Equador perto da fronteira.

"Fronteiras são importantes mas não podem ser uma forma de os terroristas se esconderem e engajarem-se em atividades çpara matar civis inocentes", argumentou Rice, ao afirmar que os EUA "apreciaram muito" a atuação conciliadora do Brasil. "haverá novas discussões na OEA sobre esse tema; obviamente vamos acompanhar a situação de perto e ver o que emerge".

"Há uma obrigação na ONU, assumida por todos os países, de fazer tudo o que puderem para impedir terroristas de usar ativamente seus territórios ou engajar-se em financiamento de atividades terroristas", lembrou. "São obrigações que todos os Estados responsáveis assumiram e espero que os Estados responsáveis cumpram essas obrigações", complementou. "Vamos olhar a situação e agir de acordo".

Rice dedicou boa parte do tempo de conversa com o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, a comentar e ouvir as impressões do brasileiro sobre o processo de paz no oriente Médio.

"Nossa cooperação e diálogo em temas internacionais tem sido muito ampla, temos sempre tido a melhor relação com os EUA", disse Amorim. "Na maior parte das vezes concordamos. Quando não concordamos integralmente, expomos nosso ponto de vista com clareza, amizade e confiança".

Rice, entre elogios ao Brasil e a Amorim, citou os temas dos biocombustíveis e da igualdade racial como os componentes da "agenda positiva" que os EUA querem adotar no continente.

Publicidade