Título: Copom cogitou retomar elevação dos juros, diz o Banco Central
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2008, Finanças, p. C2

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini: "A ata teve o objetivo de coordenar expectativas" O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central chegou a discutir uma alta nos juros básicos da economia, informou a ata do encontro, divulgada ontem. O tom pessimista do documento contagiou o mercado financeiro, elevando a curva de juros futuros. Mas, de forma geral, os analistas econômicos continuam a considerar pouco provável um endurecimento da política monetária já na próxima reunião, marcada para abril.

"O comitê discutiu a opção de realizar, neste momento, um ajuste da taxa de juros", informa a ata do Copom. "Um ajuste da taxa de juros contribuiria para reforçar a ancoragem das expectativas, não apenas para 2008, mas também no médio prazo, e para reduzir o descompasso entre as trajetórias da demanda e oferta agregadas."

Segundo a ata, o Copom não elevou os juros, hoje estabelecidos em 11,25% ao ano, porque "prevaleceu o entendimento de que, nesse momento, o balanço de riscos para a trajetória futura da inflação justificaria a manutenção da taxa no seu patamar atual". No documento, o BC não se compromete de antemão com um aperto monetário, ao reafirmar que "irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião, para então decidir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Na leitura dos analistas do mercado financeiro, a decisão dependerá dos dados sobre inflação e atividade econômica que serão divulgados nas próximas semanas. "A não ser que haja um inesperado agravamento de grandes proporções na crise nos Estados Unidos, não vejo no curto prazo um cenário que justifique a alta de juros", afirma o economista Marcel Pereira, da RC Consultores. Ele lembra que, no curto prazo, a valorização do câmbio e o arrefecimento da pressão sobre os preços dos alimentos deverão contribuir para manter a inflação sob controle.

A ata informa que melhorou a projeção de inflação do BC para 2008 no cenário básico, que considera juros estáveis em 11,25% ao ano e o câmbio inalterado em R$ 1,70. O BC só abre suas projeções numéricas no relatório de inflação, que será divulgado no final desse mês. Mas, na ata, informa que a projeção para 2008 "ainda se encontra em torno" da meta de 4,5% fixada para o ano. As projeções para 2009 pioraram, mas ainda estão abaixo da meta anual, também de 4,5%.

Embora a projeção inflacionária ainda se mantenha consistente com as metas, na visão do BC aumentaram os riscos de as coisas não se saírem exatamente como o previsto. Uma das principais preocupações do BC é o fato de que a demanda cresce a taxa mais alta do que a oferta agregada. O cenário básico continua a ser o de que os fortes investimentos sejam capazes de elevar a capacidade produtiva em tempo de evitar maior aceleração da inflação. Mas a ata diz que os riscos se agravaram, porque a demanda pode "mesmo ter se acelerado desde o início do ano".

No cenário externo, a avaliação do BC é de que o balanço de pagamentos não representa risco iminente para a inflação. Mas a ata pondera que "há sinais de que pressões inflacionárias relevantes, tanto em economias maduras quanto nas emergentes, estariam se intensificando".

Ontem, os analistas econômicos discutiam o porque do BC adotar um tom mais duro na ata, ameaçando com uma alta de juros, se não são esperados dados no curto prazo que justifiquem uma política monetária mais restritiva. O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acha que o discurso mais áspero teve o objetivo de elevar a curva de juros futuros. "A ata teve o objetivo de coordenar expectativas, recolocando a curva de juros no lugar", avalia Agostini.

O mercado financeiro, lembrou o economista, teve um comportamento pendular nos últimos meses. Em dezembro, diante da aceleração da inflação corrente, puxada sobretudo pela alta dos preços de alimentos, a curva de juros futuros disparou. Em janeiro, o arrefecimento da inflação corrente levou a uma queda nos juros futuros, apesar de a autoridade monetária já naquele mês ter expressado sérias preocupações com a inflação. "O BC deixa claro que vai se guiar pela inflação projetada", diz Agostini.