Título: Além da bolsa
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2008, EU & Investimentos, p. D1

Logo poderá ser comum pessoas físicas investindo em empresas de capital fechado, ou seja, sem ações negociadas na bolsa. Começam a ser oferecidos para os aplicadores qualificados - com mais de R$ 300 mil no bolso - fundos de private equity com investimento inicial mais baixo, a partir de R$ 100 mil. Antes, essa categoria estava acessível apenas para investidores institucionais e estrangeiros com mais de R$ 5 milhões. São carteiras que investem em empresas menores, com necessidade de recursos para expansão e com expectativa de retorno no médio e longo prazos.

Trata-se de um investimento de altíssimo risco - maior até que qualquer fundo de ações - porque não se pode vender os papéis no mercado a qualquer momento. Em geral, não é permitido resgatar nem um real antes da maturação do projeto, explica Marco Navarro, diretor de Investimentos e Planejamento Patrimonial do Unibanco Private Bank. "Portanto, é necessário aplicar apenas uma parte do capital, aquela que, com mais certeza, não será usada no período do fundo, ou seja, alguns anos." Em contrapartida ao risco, é esperado um retorno maior das empresas.

O que esses fundos buscam são negócios com potencial de ter seu valor multiplicado nesses anos. Em geral, são empresas que têm grandes chances de irem para a bolsa quando crescerem. Foi o caso de companhias hoje listadas na Bovespa, como Lupatech, Anhangüera Educacional, ALL e Localiza.

A tendência de popularização está sendo reforçada agora com a criação do fundo Fama Private Equity FIP I, que aceita aportes a partir de R$ 100 mil. Quem lança a carteira é a Fama Private Equity, recém-criada subsidiária da Fama Investimentos . A nova empresa é comandada pelos sócios John Lin, Andre Burger e Guilherme Luz. O número romano I no nome do fundo indica o desejo dos gestores de que esta carteira seja apenas a primeira de uma série de sucesso.

Já a Unibanco Asset Management (UAM) lançou no ano passado o fundo de cotas Economia Real, com aplicação mínima de R$ 300 mil. A carteira, com 51 cotistas, foi criada para investir em cotas de fundos de participações, ou private equity. Mas oito meses após seu lançamento, o Economia Real tem apenas 5% do patrimônio de R$ 38 milhões em um fundo de participações do Pátria Investimentos, associado do grupo americano Blackstone. Esse percentual deve crescer conforme houver novas empresas selecionadas para investir nos fundos do Pátria ou outros private equities, explica Navarro.

Na mesma linha, neste ano, a Orbe Investimentos lançou um multimercado em parceria com a Tamiz Engenharia com aplicação mínima de R$ 300 mil para aplicar, entre outros ativos, em cotas de fundos de private equity ligados ao setor imobiliário e à securitização de imóveis industriais. O Orbe TRD Realty I tem patrimônio de R$ 2,4 milhões e sete cotistas.

Tanto a Orbe quanto a Fama adaptaram suas estruturas de análise de ações com menor liquidez para acompanhar também empresas de capital fechado. No fundo da Fama, a idéia é atuar na gestão das empresas onde ele investirá, sendo controlador de companhias com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 250 milhões, sem setor específico.

O private equity da Fama tem prazo de sete anos para investir, maturar e desinvestir nas empresas. No entanto, se algumas companhias forem vendidas antes, a receita já poderá ser distribuída aos investidores. A taxa de administração é de 2% ao ano, corrigida pelo IPCA. Há também uma taxa de performance de 20% sobre o que superar o IPCA mais 8% ao ano. O Fama Private Equity I será distribuído também pela Credit Suisse Hedging-Griffo.

Lin, da Fama Private Equity, explica que o momento é totalmente favorável à expansão dos fundos de participações. "Com o juro mais baixo, há tanto demanda das empresas por investimentos na expansão da produção quanto apetite dos aplicadores por opções mais agressivas." Navarro, que já testou o apetite dos aplicadores por esses fundos, diz que não falta demanda, mas se preocupa que os consultores de investimentos dos cotistas expliquem claramente o perfil de risco dessas carteiras. "Ele deve explicar a falta de liquidez e impor um limite de alocação." Especialistas em gestão de recursos sugerem que a participação de private equities nas carteiras não deve ultrapassar 10%, pela falta de liquidez.

Outra empresa que pensa em lançar um plano de investimentos em companhias fechadas para aplicações a partir de R$ 100 mil é a Empreende, por meio de sua subsidiária, a Investinova. José Dornelas, presidente da Empreende, diz que o instrumento de aplicação não necessariamente será um private equity, mas a idéia é definir forma e estratégia de aplicação até abril. Dornelas também acha que seus investidores deverão ter mais uma boa quantia em outras aplicações. "A idéia é aplicar em projetos de empresas e administrar oportunidades de negócios."

Nos EUA e na Europa, essas aplicações em participações de empresas já são acessíveis à pessoa física. Lá, é comum serem ainda mais arriscadas, com fundos que podem tomar dinheiro emprestado para inflar o patrimônio e aplicar mais nas empresas, contando com a receita que elas criam para pagar a dívida.