Título: Preços industriais mantêm inflação em alta no atacado
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2008, Brasil, p. A4
As oscilações nos preços industriais preocupam economistas. Reajustes nos preços de minério de ferro, produtos da siderurgia e energia elétrica provocaram novo repique nos preços industriais e constituíram a principal fonte de pressão inflacionária no Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no intervalo de 11 fevereiro a 10 de março. O índice registrou alta de 0,61%, abaixo do 0,80% apurado no intervalo anterior, mas acima do 0,38% apresentado no Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) referente ao mês fechado de fevereiro.
O Índice de Preços por Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP, variou 0,83%, contra 0,9% na medição anterior, mas também acima do 0,52% apurado no IGP-DI. Para o economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados, que esperava um número abaixo de 0,8%, o indicador surpreendeu. "Desde dezembro o IPA se mantém acima de 0,80%, o que preocupa devido ao seu peso dentro do IGP."
A cesta de produtos industriais - que responde por 42% do IGP - variou 0,86% no período, ante 0,79% apurado no IGP-DI. O grupo de produtos agrícolas subiu 0,76% até março (no mês de fevereiro o IPA agrícola registrou deflação de 0,19%). "O IGP vem de ciclos de aumento fortes provocados pela alta nos preços de soja e trigo e acompanhados de repiques no IPA industrial, e deve manter esse perfil ao longo do ano", avaliou Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da SLW Asset Management. Ele projeta alta do IGP-M de 0,81% e no IPA industrial de 1%, por conta do recente reajuste nos preços do minério de ferro pela Vale. Na apuração deste mês, os preços do minério de ferro registraram valorização de 5,15%.
O reajuste nos preços de energia também preocupa economistas, pois indiretamente influenciam o custo de produção dos setores químico, petroquímico e siderúrgico. Segundo Gomes, produtos como plásticos, resinas e petroquímicos que demanda alto consumo de energia já sobem em média 2% ao mês. "Os preços administrados também serão afetados pelos reajustes de energia e medicamentos", afirmou.
Para Azevedo, da Rosenberg & Associados, o IPA agrícola também deve ser acompanhado com atenção, sobretudo por conta das fortes oscilações registradas recentemente no mercado internacional nos preços da soja e do trigo. Para o economista, o IGP-10 só não registrou resultado mais preocupante porque os preços de combustíveis se mantiveram 'comportados', mas a situação pode ficar mais complicada se os reajustes nos preços do etanol, feitos pelas usinas nas últimas semanas, forem repassados ao varejo. A Rosenberg projeta para o IGP variação acumulada de 5,4% no ano, e de 5,7% no caso do IPA. De acordo com a FGV, o IGP-10 acumula no ano variação de 2,45% e o IPA, de 1,93%.
Ainda de acordo com os economistas, a inflação medida no atacado foi compensada em parte pela estabilidade no varejo. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) fechou em 0,04%, ante 0,64% apurado no IGP-10 de fevereiro. O IGP-DI, apurado até o dia 29, havia registrado variação zero. Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que também compõe a cesta de preços, registrou variação de 0,49%, acima dos 0,44% do IGP-10 do mês passado e do IGP-DI, de 0,4%.
Na semana encerrada no dia 15, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) apurado pela FGV também registrou uma pequena elevação, de 0,14%, ante variação de 0,11% na semana anterior. O principal fator de pressão no período foram os reajustes na taxa de água e esgoto residencial (que passou de 0,20% para 0,46%) e na tarifa de eletricidade residencial (de 0,37% para 0,65%). Com isso, o grupo habitação encerrou a semana com alta de 0,26%, ante 0,18% na medição anterior. Também houve aceleração nos índices das cestas de educação (0,41%) e despesas diversas (0,47%). O grupo transportes repetiu a variação da semana anterior, de 0,09%, mas já apontou recuperação em combustíveis.