Título: Bird espera que emergente eleve a demanda por crédito se crise piorar
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2008, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, alertou ontem que "nenhum país está imune" da crise financeira internacional e prevê mais demanda de financiamento por parte dos emergentes se as condições dos mercados piorarem.

Para Zoellick, um indicador essencial será os "spreads" da dívida dos emergentes, o diferencial que essas economias pagam para obter recursos nos mercados internacionais.

Ele notou que os custos de financiamento para os emergentes subiram ligeiramente desde a deflagração da crise financeira nos EUA, em agosto de 2007, e que alguns governos captaram menos crédito do que desejavam no exterior.

Zoellick observou que até agora os governos não necessitaram de "recursos alternativos" do Bird com atual nível de "spreads", mas vê sinais de que a situação pode mudar.

"Nossos clientes, governos e instituições se tornaram menos seguras sobre as condições do mercado, e estamos nos tornando melhor parceiros para eles com custos menores que certamente os levarão a expandir alguns de seus volumes de financiamento'', disse.

Zoellick considera que o Bird já se tornou mais flexível, com a baixa do preço dos créditos para os países em desenvolvimento, que tinha aumentado na crise financeira de 1997. Agora, acena com redução de custos não financeiros, e nesse contexto trabalha com governos estaduais e federal do Brasil, por exemplo.

O claro, para ele, é que o banco "precisa fazer mais" no cenário atual de turbulências, ser "mais ágil e se adaptar a algumas mudanças no mercado".

Mas uma mudança não será rápida. Argumentou que tradicionalmente o Bird tem operado em períodos "contracíclicos", e uma alteração leva tempo por causa dos diferentes processos envolvendo obtenção de recursos multilaterais. O Bird tem 185 governos como membros, 10 mil empregados, e em 2007 forneceu US$ 25 bilhões em empréstimos.

O Bird trabalha com vários países para desenvolver os mercados domésticos de bônus, ajudar na gestão de reservas internacionais e usar derivativos para se protegerem contra secas, por exemplo, disse Zoellick.

Enquanto o Brasil e alguns países apostam na persistência da alta dos preços de minérios, Zoellick vê essas commodities como "uma benção e um perigo". De um lado, a alta dos preços compensa outros custos mais elevados como dos alimentos. Mas, de outro lado, isso "trás riscos de corrupção".

Em entrevistas na Europa, Zoellick reiterou que a economia dos Estados Unidos está entrando em recessão. Já a China, India e também Brasil, com bom crescimento, representam "múltiplos pólos de expansão" da economia internacional.

Mas o executivo rejeitou a tese de "descolamento", pela qual os emergentes teriam suas próprias fontes de expansão e seriam relativamente imunes a uma recessão nos EUA. Espera propagação de alguns efeitos sobre o comércio exterior e o setor financeiro dessas economias, mesmo se até agora elas se mostraram resistentes à turbulência.