Título: Taxas de juros do crédito mantêm tendência de alta
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2008, Legislação, p. C3

A turbulência dos mercados mundiais provocada pela crise nos Estados Unidos continua afetando o custo do crédito no Brasil. Os juros futuros, que servem de referência para as taxas de captação dos bancos, voltaram a subir nos últimos dias, pressionando as taxas cobradas dos clientes finais.

As taxas dos swaps longos (DI x pré, de 360 dias) negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) subiram de 11,92%, no fim de fevereiro, para 12,55% ontem. Essa taxa é uma das principais referências para o custo que os bancos têm para captar recursos.

Desde o início do ano, parte dessa pressão nos custos já foi repassada para o cliente final. Em janeiro, dados do Banco Central apontaram alta de 3,5 pontos percentuais nas taxas de juros média do crédito.

Em fevereiro, pesquisa mensal da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que os juros médios para pessoa física apresentou uma elevação de 0,02 ponto percentual no mês, mesma alta das taxas para empresas.

"Se continuar a turbulência lá fora, a tendência é inevitavelmente de alta nos juros do crédito aqui no Brasil", afirma Sérgio Diniz, diretor financeiro do Banco GMAC, do grupo General Motors. "Estamos nesse momento avaliando esses possíveis impactos e fazendo cálculo de quanto conseguimos absorver e quanto teria de ser repassado."

Já os prazos não devem ser reduzidos pelo menos num primeiro momento, segundo Diniz. "Os prazos mais longos têm agido como colchão que amortiza a pressão das taxas."

Boa parte dessa alta dos juros futuros, no entanto, ainda não foi repassada para o consumidor, afirma Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). "Nosso papel, como banco de montadora, é dar estabilidade para o negócio de veículos. Só fazemos movimento quanto já está consolidado. Não temos a mesma dinâmica do mercado".

Montenegro afirma ainda que a situação do mercado brasileiro é mais tranqüila do que foi em outros períodos. "Os bancos têm caixa, não há necessidade de buscar recursos de curtíssimo prazo para rolar operações."

Apesar do cenário mais volátil, a demanda por crédito se mantém aquecida. Isso porque, segundo Montenegro, mesmo com aumento dos juros, as taxas estão mais baixos do que há dois anos.

O impacto maior, num primeiro momento, se dá nas empresas de pequeno e médio porte, afirma Everton Gonçalves, assessor-econômico da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Segundo ele, as taxas para pessoas físicas têm um spread maior, o que absorve parte das elevações.

"Os clientes pessoas físicas ainda vão demorar um pouco para sentir a alta." Além disso, o mercado está muito competitivo. "O efeito pode ser menor, pois os bancos estão brigando por espaço, mesmo com pressão nos custos."