Título: Temor de recessão nos EUA leva os investidores a realizarem lucros
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2008, Empresas, p. B12

A percepção de que a crise de crédito nos Estados Unidos pode ser maior do que o imaginado levou os investidores a realizarem os lucros nas aplicações em commodities durante a segunda-feira. Os dois fatores principais que influenciaram as quedas nas cotações dos metais e petróleo foram a compra do Bear Stearns pelo JP Morgan, por um valor muito abaixo do considerado justo pelo mercado, e a decisão do Federal Reserve (Banco Central americano) de reduzir de 3,5% para 3.25% a taxa de redesconto - utilizada em empréstimos de emergência para bancos comerciais com o objetivo de dar liquidez ao mercado.

O temor fez com o preço do petróleo tipo WTI com entrega em abril, negociado em Nova York, cair 4,29%, encerrando o dia cotado a US$ 105,68. O vencimento de maio fechou a US$ 104,23, com baixa de US$ 4,51. O mesmo comportamento foi visto em Londres, na cotação do barril tipo Brent com entrega para maio, que terminou a segunda-feira valendo US$ 101,75, depois de recuar US$ 4,45 em relação ao preço regristrado no pregão anterior. O contrato de junho terminou a US$ 101,46, com redução de US$ 4,32.

Corretores consultados pelo Financial Times comentaram que especuladores tinham acumulado apostas substanciais no encarecimento do petróleo e disseram que algumas dessas posições estavam sendo encerradas. Os dados mais recentes da Comissão de Trading de Contratos Futuros de Commodities revelou um aumento de 13,8%, para 113.307 contratos para a posição especulativa de quem aposta na alta na semana finda em 11 de março, quando o WTI chegou a US$ 108,75 por barril, após cinco altas semanais consecutivas.

Na opinião de Daniel Gorayeb, analista da corretora Spinelli, o aumento da percepção de risco de recessão nos EUA fez o mercado realizar parte dos lucros obtidos nas aplicações em commodities desde o ano passado. "É um ajuste normal que ocorre em um momento de forte tensão do mercado", diz.

Segundo ele, ainda que tenham crescido os temores sobre o comportamento da economia americana, as commodities tendem a se sustentarem em patamares mais elevados do que os registrados em 2007. "O Fed tem agido prontamente nos problemas de liquidez, o que deve manter os preços das commodities em alta neste ano", estima.

Nas cotações dos metais, o estanho foi o único que apurou queda inferior a 4%. De acordo com os números do fechamento da Bolsa de Metais de Londres (LME na sigla em inglês), o preço do estanho com entrega em três meses recuou 1,57%, cotado a US$ 20.375 a tonelada.

O chumbo foi o que registrou a baixa mais significativa, terminando o dia em US$ 2.910 a tonelada, o que representa queda de 6,19% na comparação com o pregão anterior. As demais commodities metálicas acompanharam o movimento de desvalorização. O alumínio recuou 5,4%, a US$ 2.976, o níquel 4,7%, cotado a US$ 31.450, seguido pelo zinco, que apurou baixa de 4,45% e encerrou o dia a US$ 2.493. O cobre perdeu 4,12%, valendo US$ 8.140.

Para Gorayeb, os sinais de demanda por metais ainda mostram equilíbrio. "Não pode ser considerada uma reversão de tendência. Os mercados consumidores não estão sinalizando um recuo nas compras".

Enquanto as posições dos fundos de hedge eram liquidadas, fazendo com que os preços das commodities metálicas caíssem, investidores buscaram abrigo nas aplicações em ouro. A procura de refúgio seguro e a desvalorização do dólar contribuiu para levar o ouro para o recorde de US$ 1.030,80 por onça troy, mas a cotação recuou ao final do dia, fechando em US$ 1.011,20, alta de 1,4%. A valorização conta também com o sentimento de que as reduções de juros nos EUA e a possibilidade de o mesmo ser feito pelo Banco Central da União Européia aumentem as pressões inflacionárias.

Para Tim Drayson, analista do ABN Amro, comprar ouro agressivamente neste momento significa acreditar em conseqüências inflacionárias das ações de política econômico-monetária tomadas para socorrer os mercados financeiros.

No mesmo sentido, Jon Nadler, analista-sênior da Kitco Minerals & Metals de Montreal, no Canadá, acredita que novos recordes na cotação do ouro estão por vir. "O pico do ouro ocorrerá quando a última instituição der baixa contábil em seu último dólar (de prejuízo)".