Título: BB avança no crédito com ajuda de bancos estaduais
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2008, Finanças, p. C2

Mescolotto, presidente do Besc: "O banco não olha apenas a rentabilidade" O Banco do Brasil deverá avançar mais rápido no crédito consignado e ampliar a sua base de clientes de cartão de crédito com a incorporação de dois bancos estaduais, de Santa Catarina e do Piauí. Mas também terá que equacionar alguns problemas, como agências deficitárias ou localizadas próximo de seus próprios pontos de atendimento.

O presidente do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), Eurides Mescolotto, diz que cerca de 15 agências do banco que dirige não são rentáveis, num universo de 447 pontos de atendimento. Em geral, são agências pioneiras, ou seja, as únicas existentes em alguns municípios.

"O banco não olha apenas a rentabilidade", afirma Mescolotto. "Sem essas agências, circularia menos dinheiro nas comunidades porque os aposentados teriam que ir a outros municípios para sacar os seus benefícios."

Ao longo dos últimos anos, o BB fez um esforço para reestruturar a sua própria rede de agência, fechando algumas deficitárias. No acordo para a incorporação do Besc, o BB se comprometeu a manter por cinco anos o atendimento bancário nas localidades em que o Besc está presente.

Oficialmente, o BB não se pronuncia sobre sua estratégia para os bancos estaduais, afirmando que ainda não tomou conhecimento dos detalhes de cada banco. De forma reservada, porém, fontes do BB afirmam que esperam tornar lucrativas um bom número de agências deficitárias. O compromisso de manter o atendimento bancário, na visão do BB, não impede que algumas unidades sejam redimensionadas, com redução do número de funcionários e mudança para prédios mais baratos.

Uma das razões para o baixo retorno em algumas agências, diz uma fonte, é o fato de que o Besc, que estava se preparando para a privatização, oferecer um número limitado de produtos financeiros - o banco não tem, por exemplo, cartões de crédito. Nos casos em que não for possível torná-las lucrativas, lembra essa mesma fonte, uma alternativa será fazer o atendimento por terminais eletrônicos ou correspondentes. O compromisso foi manter o atendimento bancário, o que não significa, necessariamente, a presença de agências.

Outro desafio é a forte sobreposição de agências no interior de Santa Catarina. O BB já era, atrás do Besc, o segundo banco no Estado. Em 143 municípios, tanto o BB quanto o Besc estão presentes. Pelo menos 53 agências do Besc são vizinhas de rua de agências do BB.

Dentro do BB, esse é visto como um problema a ser resolvido na última fase da incorporação. Nada impede que, nas situações em que agências sejam vizinhas, uma delas feche. Mas o BB não descarta especializar as agências - uma para alta renda, por exemplo, e outra para os demais clientes. Também podem ser mantidas duas agências próximas sem mudar o perfil.

"A sede do Besc fica na Praça 15 de Novembro, em Florianópolis, e o BB tem uma grande agência do lado da nossa", afirma Mescolotto. "A agência do BB e a agência do Besc ficam cheias o dia todo. Não consigo imaginar como fechar uma delas."

O acordo para a incorporação também prevê a manutenção da marca Besc por, no mínimo, cinco anos. Como regra, bancos privados não mantiveram as marcas dos bancos arrematados nos leilões de privatização. Uma exceção é o Banespa, adquirido pelo Santander, que não tinha então uma marca consolidada dentro do país. O BB não vê a manutenção da marca Besc necessariamente como um encargo - a avaliação é que o banco tem tradição no Estado e agrega valor à marca do BB.

Num primeiro momento, a marca Besc permitirá ao BB se apresentar no Estado como "o banco dos catarinenses", em linha com a estratégia do banco federal de se aproximar de públicos específicos - por exemplo, como o banco do comércio exterior ou da micro e pequena empresa. Aos poucos, a intenção é associar a placa do BB à do Besc para, se for o caso, mais tarde eliminar essa segunda marca.

Um dos ganhos com a incorporação do Besc, para o BB, é levar também o Bescri, a empresa especializada em crédito imobiliário. O BB está pedindo ao Conselho Monetário Nacional (CMN) permissão para operar dentro do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), o que tornaria possível captar em caderneta de poupança urbana e operar com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O sinal verde do CMN está levando mais tempo que o esperado, mas a incorporação do Bescri não é vista necessariamente como uma solução. Primeiro, porque a incorporação deve ser concluída só no segundo semestre, e o BB pretende entrar no SBPE bem antes do que isso. Segundo porque, juridicamente, não é certo que a autorização para operar no SBPE concedida à Bescri possa ser repassada ao BB. De qualquer forma, o BB vê com interesse a forte captação do Besc em caderneta de poupança, que chegou a R$ 2,05 bilhão em 2007 e pode ser usada como uma fonte a mais para o crédito imobiliário. Outro ponto forte do Besc é uma carteira de R$ 340 milhões em crédito consignado ao funcionalismo.

Já o Banco do Estado do Piauí (BEP) tem uma rede bem mais enxuta, com sete agências e nove postos de atendimento bancário, o que facilita em muito a incorporação. O BB já é o banco mais importante no Estado, com 58 agências. Não existe acordo firmado para preservar a marca nem os pontos de atendimento.

Nos últimos anos, o BEP passou por um severo processo de ajuste. Nos áureos tempos, a instituição chegou a ter 60 agências e perto de 1500 funcionários - hoje, são 196. "A administração do BEP foi conduzida de forma passiva, sem abrir agências ou lançar novos produtos", afirma o presidente do BEP, Marcos Antonio Siqueira, um funcionário aposentado do Banco Central que assumiu a direção do banco em 2000 para prepará-lo para a privatização. O principal nicho de atuação do banco são os empréstimos consignados, com uma carteira de R$ 120 milhões. As carteiras de câmbio, desenvolvimento econômico e crédito imobiliário estão inativas.