Título: Usiminas capta US$ 1,3 bi em meio à crise
Autor: Lucchesi,Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2008, Finanças, p. C14

Em meio à crise de solvência no sistema financeiro americano, a Usiminas acaba de conseguir empréstimo de US$ 1,3 bilhão, US$ 100 milhões acima do previsto inicialmente, de um total de 23 bancos em operação liderada pelo HSBC. Os recursos serão utilizados para comprar a mineradora mineira J. Mendes.

Desde janeiro, o HSBC colocou US$ 1,5 bilhão disponível para a empresa. Ficou com US$ 300 milhões nos seus livros e resolveu distribuir US$ 1,2 bilhão no mercado externo aos bancos. Apesar do agravamento da crise de crédito internacional, a Usiminas não teve dificuldades em obter US$ 100 milhões a mais do que o previsto, segundo Alexei Reminov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC.

"Para as empresas brasileiras de menor risco de crédito, há dinheiro disponível", afirma o executivo. A Usiminas informa que é a única siderúrgica brasileira considerada grau de investimento - espécie de selo de investimento não-especulativo - pelas três principais agências de classificação de risco de crédito: a Moody's, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings.

"Nesses momentos difíceis do mercado, é preciso definir preços de forma correta, de forma a evitar que a transação acabe não saindo, o que prejudicaria a empresa e o mercado como um todo", afirma Reminov. "Não adianta querer apertar muito o preço diante de toda essa instabilidade que não dá certo", diz ele.

O empréstimo foi feito em três parcelas. A primeira foi um pré-pagamento à exportação de total de US$ 300 milhões e prazo de vencimento em cinco anos que vai pagar 1,10% ao ano sobre a Libor, a taxa interbancária de Londres. A segunda parcela foi um pré-pagamento à exportação de US$ 300 milhões com prazo de vencimento em sete anos e que vai pagar 1,35% sobre a Libor.

A terceira e maior parcela é de US$ 700 milhões, tem vencimento em dois anos e trata-se de uma linha chamada de "revolver". Como um empréstimo "stand-by", um "revolver" ou crédito rotativo fica disponível para a empresa por um período pré-determinado com uma taxa prefixada. Mas, o "revolver" é mais flexível. Um crédito "stand-by", depois de sacado e quitado, não pode ser tomado de novo. O "revolver" permite que a empresa saque os recursos, pague e depois saque de novo desde que dentro do prazo preestabelecido, no caso da Usiminas os dois anos. Se a Usiminas sacar os recursos, vai pagar Libor mais 0,75% ao ano. Se a empresa não sacar o dinheiro, vai pagar 0,3375% para ficar com a linha disponível para saque.

A Usiminas optou por esse empréstimo "revolver", pois ele é o que mais se ajusta ao fluxo de pagamento da aquisição. A empresa poderá pagar mais pela J. Mendes depois que avaliar as reservas de minério de ferro da empresa. A compra foi anunciada em fevereiro e o pagamento inicial de US$ 925 milhões já foi feito. Segundo a Usiminas, desembolsos complementares poderão ser realizados até o valor máximo de US$ 1,9 bilhão, caso as reservas alcancem 1,4 bilhão de toneladas de minério nas quatro minas, com teor de ferro médio de 47%. Se as reservas passarem esse objetivo, nenhum pagamento adicional será feito.

Na fase de atacado da distribuição do empréstimo, a fase na qual os bancos participam com as maiores fatias de crédito, apenas um banco americano participou: o JPMorgan. Outros participantes dessa fase são os japoneses Sumitomo Mitsui, o Mizuho e o Tóquio-Mitsubishi, os espanhóis BBVA e Santander, os franceses Société Générale e BNP Paribas, o ABN Amro (agora do consórcio formado pelo espanhol Santander, pelo belga-holandês Fortis e pelo britânico Royal Bank of Scotland) e o holandês ING.

Para comparação, o Grupo Votorantim pagou prêmios menores em operação fechada no início de fevereiro, de US$ 1,3 bilhão. A parcela de US$ 300 milhões para capital de giro de prazo de três anos pagou 0,55% ao ano sobre a Libor. O pré-pagamento à exportação de prazo de cinco anos de US$ 500 milhões pagou 0,725% e o de US$ 500 milhões com prazo de vencimento em sete anos pagou 0,825%.