Título: Acionistas negociam em quartel-general
Autor: Magalhães, Heloisa ;Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2008, Empresas, p. B3

Acionistas da Oi (ex-Telemar) e da Brasil Telecom (BrT) resolveram montar uma espécie de "quartel-general" para acelerar as negociações visando à união das duas operadoras - e estão trabalhando dessa maneira desde segunda-feira. A expectativa é de que, com todos os participantes reunidos num só local, as conversas para a venda da BrT à Oi deslanchem.

O Valor apurou que a proposta de concentrar todos os interessados no mesmo local partiu dos controladores da Oi. Há vários grupos de trabalho preparando documentos, mas até o fim da tarde de ontem não havia nada assinado. As conversas estão ocorrendo na sede da holding Telemar Participações.

"A operação está, ao mesmo tempo, muito perto e muito longe de ser fechada. E, se não sair até a semana que vem, diminuem muito as chances de que seja bem-sucedida", diz um interlocutor que acompanha o processo.

Segundo outra fonte que participa das conversas, as negociações estavam muito "dispersas" - daí a idéia de se montar um quartel-general para fomentar um "ambiente de contágio".

Como exemplo dessa dispersão, um interlocutor que participa do processo apontou as conversas com o Opportunity, gestora de recursos que tem participações acionárias na BrT e na Oi. Como o próprio Daniel Dantas não participa das reuniões (é representado por um dos sócios da administradora, Arthur Carvalho, e por advogados), muitas vezes propostas que eram desenhadas num dia acabavam sendo modificadas após ser submetidas ao empresário.

E o ponto nevrálgico neste momento são justamente os litígios que Citigroup e fundos de pensão, controladores da BrT, têm contra o Opportunity.

O banco americano não está disposto a abrir mão dos processos que move contra Dantas, nos quais pede indenização superior a US$ 300 milhões. A BrT, por sua vez, negocia uma indenização para desistir das representações nas quais pede ao Opportunity um ressarcimento de R$ 521 milhões. O problema é como fazer isso sem levantar questionamentos de seus acionistas minoritários. A possibilidade mais viável é submeter a desistência ao crivo dos acionistas numa assembléia geral extraordinária - o que alivia, mas não resolve totalmente a situação.

O Valor apurou que os controladores da Oi não querem comprar a BrT sem que haja uma solução para os litígios. Do contrário, assumiriam eles o risco de contestações judiciais.

As conversas entre os acionistas da BrT e da Oi começaram nos últimos dias de 2007. No início de janeiro, o preço estipulado para a operação tornou-se público, o que criou a expectativa de um desfecho rápido.

Porém, o negócio é complexo e exige um descruzamento de participações repleto de detalhes, observa fonte ligada aos acionistas. Segundo ele, no início do ano criou-se no mercado uma sensação de que as negociações encontravam-se muito mais avançadas do que efetivamente estavam. Naquele momento, haviam sido definidos os passos cruciais - o preço de compra da BrT e a reestruturação no controle da Oi -, mas faltavam questões tão complexas quanto a governança da nova empresa e a discussão dos litígios.

Os sócios majoritários da Oi já desenharam a reestruturação do bloco de controle da operadora, com a saída do GP e das seguradoras do Banco do Brasil. Os fundos de pensão, Andrade Gutierrez e La Fonte (Carlos Jereissati) permanecem no controle e os dois grupos privados serão os maiores acionistas da "supertele".

Por enquanto, segundo fonte ligada à Oi, os acionistas sequer trabalham com a possibilidade de levar adiante a reestruturação, caso a operação fracasse. Todas as fichas continuam apostadas na compra da Brasil Telecom.

Do lado da BrT, a negociação entre os acionistas é bem mais complexa. Com o impasse em torno dos litígios e a demora no processo, a operadora pensa em alternativas. Uma possibilidade é retomar o projeto de pulverização do capital da empresa, abortado no início deste ano após a oferta da Oi.

Outra hipótese, na visão de um analista de investimentos, seria a própria Brasil Telecom partir para o ataque e tentar comprar a Oi.