Título: Petrobras descarta ajuste nos planos, por enquanto
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2008, Finanças, p. C12

José Sergio Gabrielli: é preciso ficar atento ao que ocorre nos Estados Unidos O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, considera que é preciso analisar os desdobramentos da crise americana e fazer ajustes finos, se necessário mas até agora não planeja mudar o plano da companhia de captar US$ 5 bilhões em 2008.

"Não vamos mudar por causa de uma crise que tem uma semana, mas evidentemente temos que acompanhar com cuidado porque pode afetar a liquidez do mercado", explicou.

No plano de negócio da Petrobras até 2012 - e que não prevê investimentos para produzir petróleo nos campos gigantes como Tupi e Júpiter- estão previstos desembolsos de US$ 112,4 bilhões no período.

A viabilidade dos projetos é sustentada supondo um preço de US$ 35 por barril de petróleo, o que é um número bastante conservador. Considerando esse preço, a geração de caixa da companhia no período será de US$ 104 bilhões, já descontados os dividendos. Os números foram citados pelo executivo para mostrar que a Petrobras não depende de captações para cumprir seu plano de investimentos.

"Se o mercado ficar mais difícil, a companhia pode ter que usar mais capital próprio do que previa, mas isso não afeta o investimento", disse Gabrielli. O presidente da estatal ressaltou que é preciso ficar atento ao que acontece nos Estados Unidos.

O executivo fez ontem uma análise sobre os efeitos da crise bancária nos Estados Unidos sobre o mercado internacional de petróleo e foi aplaudido no final por uma platéia repleta de empresários que participaram de seminário no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef).

Entre as conclusões um destaque foi que os preços do petróleo vão continuar a apresentar grande volatilidade em função da possibilidade de migração de parte do capital que vinha sendo aplicado no mercado financeiro americano para o mercado futuro de petróleo. Isso pode acontecer, segundo Gabrielli, em função da queda das taxas de juros nos Estados Unidos, que pode levar alguns aplicadores a buscar segmentos mais lucrativos e com maiores taxas de retorno.

"Nós temos hoje uma crise financeira, principalmente no mercado americano, que tem um impacto forte nas ações de bancos e em quem tem dinheiro aplicado nesses bancos. Mas não existe a mesma situação em outros mercados que têm liquidez", observou.

Gabrielli lembrou que taxa de juros americana no longo prazo está caindo e por isso mais investidores devem procurar alternativas mais rentáveis indo para o já conturbado mercado futuro de petróleo.

"Conseqüentemente, é impossível prever os preços. O que dá para prever é que vai ter muita oscilação e variação", disse o presidente da Petrobras.

Essas previsões podem mudar se os Estados Unidos, que é responsável por quase 25% do consumo mundial de petróleo, registrar um agravamento da crise. Segundo Gabrielli, uma desaceleração da economia americana que dure mais do que dois trimestres pode sim afetar o mercado de petróleo.

Mas na avaliação dele ainda não há como saber exatamente o que vai acontecer, até porque ainda não é certo deduzir que a crise vai reduzir drasticamente a demanda por combustíveis. E é preciso lembrar que o consumo de petróleo vem crescendo em países que não dependem do dólar.

Uma mostra da incerteza que cerca o tema é a avaliação de Gabrielli sobre o futuro imediato. "Já tive uma visão clara, mas hoje não sei. Antes dessa última agudização minha expectativa é de que teríamos uma crise leve e curta nos Estados Unidos. Mas essa última crise do Bear Stearns e do Lehman Brothers, que é de curto prazo, pode levar a um problema de ajuste de portfólio dos investidores que eu não sei quando pode chegar até o consumidor e a economia real. Temos que observar", disse.