Título: BC deve subir Selic para 18,75% ao ano
Autor: Luiz Sérgio Guimarães, Altamiro Silva Júnior e Ser
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual em sua reunião de fevereiro, marcada para terça e quarta-feira da semana que vem. Este é o consenso maciço dos analistas consultados pelo Valor. Será a sexta alta consecutiva, das quais as últimas cinco no compasso de 0,50 ponto. Mantido o ritmo, a Selic passará a 18,75% a partir de quinta-feira. E pode não ser a elevação derradeira do ciclo de aperto monetário iniciado em setembro. Embora considere desnecessário qualquer movimento adicional de elevação do juro básico, a consultoria GRC Visão prevê, "no mínimo", um avanço de 0,50 ponto na próxima reunião do Copom. Uma Selic de 18,75% estabelece o piso das apostas porque, conforme lembra o diretor da GRC, Alex Agostini, a ata de janeiro do Copom ameaçou acelerar o ritmo de alta do juro. Não se pode descartar, portanto, uma intensificação do ajuste, com a Selic avançando direto para 19%. "Nosso cenário mais provável é de nova alta de 0,50 ponto com manutenção do comunicado pós-reunião. Com isso, indicaria nova alta de 0,50 ponto em março. Mas, na reunião de março, mudaria o teor do comunicado de forma a sinalizar o fim do ciclo de aperto", prevê Agostini. Esta atitude do BC seria compatível com a já relatada ação preventiva de longo prazo. Por ela, há uma recusa em se proceder a uma parada estratégica do ajuste monetário para avaliação do efeito sobre a atividade produtiva e a inflação. O BC só irá parar de subir o juro depois que a indústria e o comércio fornecerem indícios de perda de fôlego. E isso ainda não aconteceu. A onda mais forte de aperto foi detonada em outubro, e somente os dados de janeiro indicarão uma absorção completa do impacto. Adauto Lima, economista sênior do WestLB do Brasil, também não vê necessidade de uma nova alta nos juros. Mas para manter a consistência de sua política monetária, ele acredita que o BC deve subir a Selic em 0,50 ponto. "Desde a divulgação da ata, tivemos alguma melhora, com o IGP mais fraco e o real mais forte", diz. Mas outros números, como a produção industrial de dezembro, mostram que a atividade econômica ainda não se desacelerou. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, não descarta a possibilidade de a alta da Selic vir acompanhada por uma elevação temporária dos depósitos compulsórios dos bancos. Isso porque a expansão do crédito com recursos livres permanece em ritmo elevado, dado que parece inviável maior aperto fiscal (via contenção de despesas), e que o governo quer ampliar o crédito direcionado. "Alguém deve se preocupar prioritariamente com o tema da inflação. Se não for o BC, quem será?", pergunta o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, para quem o Copom irá subir a Selic para 18,75%. "Vejo o BC na trilha certa ao aumentar o tom mirando os formadores de preços em época de entusiasmo empresarial. Houve alguma aceleração da inflação que precisa ser combatida", diz o economista. Para ele, não há risco muito relevante sobre o crescimento no biênio 2005-2006 decorrente da política monetária. O economista da distribuidora FinaBank, Pedro Paulo B. da Silveira, está convencido de que a taxa básica tornou-se irrelevante para as decisões de longo prazo dos agentes econômicos. Pelo seu raciocínio, a taxa é efetivamente percebida como muito elevada e "instável". "Logo, a conta que deve estar sendo feita é a de que, apesar da elevadíssima taxa real de 12,7% atual, ela vai cair no médio prazo a um patamar mais civilizado", diz Silveira. O conservadorismo do BC se nutre da constatação de que a política fiscal está definitivamente na contramão das decisões do Copom. A ampliação do gasto público pode ter contribuído muito para o resultado do PIB de 2004 que deve fechar com expansão de 5,3%. O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, também acredita em aumento de 0,5 ponto. Para ele, o BC vai elevar a Selic para 18,75% porque os núcleos do IPCA estão em níveis incompatíveis com a meta e as expectativas de inflação continuam a mostrar resistência a cair, além de seguir acima do alvo. Além disso, a atividade econômica na indústria se mantém forte, como indicaram os números de dezembro, afirma ele. Lintz avalia que a alta deste mês poder ser a último do ciclo de aperto. "Mas somente os próximos números do IPCA e produção industrial poderão confirmar isso", diz ele. O diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, lembra que a divulgação do IPCA fechado de janeiro nesta segunda-feira pode embaralhar as apostas do mercado para o Copom. Sobretudo se os núcleos recuarem para a faixa de 0,50%. "Mas eu acredito que a decisão para o próximo Copom já está tomada. Será feita nova alta de 0,50 ponto. Se houver surpresa, será no sentido de acelerar o aumento", diz Póvoa. Para Alexandre Maia, economista chefe da GAP Asset Management, o BC vai aumentar a Selic em 0,50 ponto. O banco, porém, terá que admitir que as condições para a inflação futura melhoraram, ainda que a inflação corrente esteja elevada. "O BC terá que sinalizar que os riscos que ele via na reunião de janeiro, diminuíram e o IPCA de janeiro deve mostrar isso", diz. Ele acredita que a chance de um aumento acima de 0,50 ponto é zero; um aumento menor, porém, pode acontecer. Para Maia, a alta do juro deve se desacelerar em março, sinalizando que o aperto monetário pode estar perto do fim. A introdução pelo Banco Central da modalidade de intervenção cambial configurada pela venda de contratos de swap sinaliza, segundo o consultor Miguel Daoud, da Global Adviser, a intenção de interromper logo o ciclo de aperto monetário. De ampla aceitação pelo mercado, os contratos representam a troca de uma dívida barata, indexada ao dólar, por outra cara, corrigida pela Selic. O BC só aceitaria promover a troca se a sua intenção fosse subir a taxa básica menos do que está sendo esperado pelas instituições. E, depois, estabilizá-la em patamar menor do que o imaginado. Se o BC não fizer isso estará, na opinião do consultor, "rasgando dinheiro, algo inconcebível já que a área técnica do BC é muito competente". É por isso que Daoud acredita que o Copom irá subir o juro agora em somente 0,25 ponto, indicando que em março ou abril irá estancar o movimento de alta.