Título: Crise econômica global não deterá crescimento brasileiro, diz Langoni
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2008, Brasil, p. A2

Ainda que o crescimento econômico mundial caia de um patamar de 4,5%, em 2007, para um número próximo a 3% este ano por causa de crise americana, a economia brasileira manterá seu crescimento em um nível bastante razoável, provavelmente caindo para 4,5% (contra 5,4% em 2007), segundo avaliação do economista Carlos Geraldo Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central (BC).

Langoni coordena, na próxima segunda-feira, o seminário "Cenários da Economia Brasileira e Mundial", com o apoio do Valor. O evento, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), será realizado entre 9h e 12h30. Planejado há várias semanas, o seminário ocorre quando a economia mundial vive o momento até agora mais grave da crise deflagrada pelos EUA, com os primeiros reflexos sobre os preços das commodities, carro-chefe das exportações brasileiras.

Langoni avalia que a crise representa um grande teste para a economia brasileira e, na sua opinião, o resultado final vai provar o acerto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao optar pela manutenção de políticas fiscal e monetária responsáveis, ainda que não tenha havido avanços significativos nas reformas estruturais.

Ele comparou a crise atual com a de 2001, desencadeada pelo ataque terrorista às torres gêmeas de Nova York, e concluiu que as diferenças são significativas, pelo lado positivo, tanto no âmbito internacional como do ponto de vista estritamente brasileiro. Externamente, na avaliação do diretor da FGV, a China, em 2001, apesar de já viver um longo período de crescimento, ainda tinha peso relativo muito baixo no conjunto do crescimento mundial. "Hoje, o peso do crescimento chinês é maior do que o dos Estados Unidos", constata.

Essa maior relevância chinesa, aliada a um papel mais decisivo de outros países emergentes, como Índia, Rússia e Brasil, deve contribuir, na avaliação do economista, para que não haja recessão mundial mesmo que os EUA venham a enfrentar alguma retração. Os preços das commodities podem sofrer algum arrefecimento, como já sinalizaram ontem, mas Langoni aposta que ainda irão ficar em patamar elevado, sustentando algum crescimento do comércio mundial. "A não ser que haja uma debacle nos EUA", ressalva.

Sempre comparando o momento atual com a crise de 2001, Langoni aponta, internamente, algumas diferenças essenciais entre as duas situações. Em primeiro lugar, o país tinha naquela época um déficit em conta corrente de 5%, enquanto agora está saindo de um período superavitário até 2007 para um pequeno, e ainda pouco preocupante, déficit em 2008.

As reservas internacionais brasileiras, que hoje se aproximam dos US$ 200 bilhões, eram de apenas US$ 36 bilhões na crise anterior. A conseqüência desses números diferentes é que a crise até agora praticamente não pressionou a taxa de câmbio (não há fuga de capitais), que mantém um viés de apreciação e, mais importante, não atingiu o consumo doméstico e nem o apetite dos agentes econômicos para investir.

Sem uma forte pressão cambial, Langoni entende que não será necessário nenhum ajuste drástico na taxa de juros doméstica, o que poderia frear os investimentos. Ele acha mesmo que, em vez de mexer nos juros, o governo poderia atuar mais fortemente pelo lado fiscal, reforçando a confiança do mercado no equilíbrio do governo.