Título: Indústria planeja ampliar capacidade em 11%
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Fonte: Valor Econômico, 20/03/2008, Brasil, p. A5

As indústrias devem registrar em 2008 um aumento mais significativo da capacidade instalada, fruto de investimentos realizados em anos anteriores impulsionados pela perspectiva de crescimento da demanda interna. De acordo com sondagem realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) junto a 381 indústrias do setor de transformação, a capacidade instalada deve se expandir em 11% neste ano, 4 pontos percentuais acima do verificado em 2007. O índice é o mais alto da série, iniciada em 2004. A expansão será mais significativa nos setores de alimentos (13%) e bens de capital (12%). No triênio 2008-2010, os investimentos em expansão previstos serão mais fortes em produtos alimentares (17%), metalurgia (13%) e minerais não-metálicos (12%).

Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a expansão de 11% pode aliviar a pressão em setores que operam com a capacidade instalada acima de 85%. "Considerando que a produção industrial cresce entre 6% e 7%, esse aumento de 11% é bastante razoável, suficiente para acomodar o aumento da demanda sem elevar o uso da capacidade instalada e sem ameaçar as projeções para a inflação", afirmou.

De acordo com os dados da sondagem, o uso médio da capacidade instalada no setor de transformação deve ficar em 84,8% neste ano, ante média de 83% em 2007. A pesquisa também aponta elevação dos investimentos em formação bruta de capital fixo, passando de 16,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado para 17,6% neste ano. "Os investimentos em capital fixo podem chegar a 18% do PIB, mas ainda está abaixo do desejável para uma economia que pretende crescer 5% ao ano", avaliou Aloísio Campelo, economista da FGV, para quem a taxa ideal de investimento seria de 20%.

Para o triênio 2008-2010, a expectativa das indústrias é de uma expansão de 22%. Conforme a pesquisa, 87% das empresas apontaram a demanda interna como principal fator de impulso aos investimentos em expansão da capacidade e 88% informaram que esperam lucrar com os aportes. "É um sinalizador de que o ciclo de investimentos seguirá em expansão no triênio", avaliou Campelo.

O economista considerou o resultado do levantamento positivo, mas alerta que é preciso estar atento à evolução no uso da capacidade instalada. Conforme a sondagem, 31% dos empresários afirmaram que consideram possível não atender a todas as encomendas previstas por conta de um eventual esgotamento da capacidade produtiva. Em 2005, o índice era de 29%. Campelo observa que o índice aumentou para os setores de bens de consumo (de 12% para 33%), bens de capital (de 18% para 31%) e material de construção (de 39% para 57%). "Esses setores ainda registram uma expansão da demanda forte no mercado interno e devem ser monitorados mais de perto."

Leonardo Mello de Carvalho, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) observou que o nível de utilização da capacidade instalada pelas indústrias tem se mantido em torno de 83% nos últimos cinco meses e que o nível de emprego cresceu nos últimos meses - um indicativo de que parte das indústrias aposta no aumento da produtividade para garantir as entregas ao varejo.