Título: Para Ciro, aliança é reconciliação histórica entre petistas e tucanos
Autor: Moreira , Ivana
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2008, Política, p. A6

Ciro em visita a Aécio: "Apesar da disputa paroquial dos políticos de São Paulo, há muitos pontos de convergência" Um dos possíveis candidatos à Presidência em 2010, o deputado federal Ciro Gomes (PSB) definiu como "um processo de reconciliação histórica" a aliança que vem sendo articulada entre PSDB e PT para a sucessão em Belo Horizonte. O governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito da capital, Fernando Pimentel (PT), vêm defendendo o apoio das duas legendas a um candidato do PSB de Ciro.

Segundo o deputado, PT e PSDB são hoje as duas forças políticas mais representativas da sociedade brasileira. E, apesar da "disputa paroquial dos políticos de São Paulo", têm muitos pontos de convergência. Para ele, será um "ato de hostilidade incompreensível" se a direção nacional do PT vetar a aliança que tem o apoio da população de Belo Horizonte. "Não acredito que aconteça", afirmou.

Ciro Gomes desembarcou na cidade no início da noite de ontem para um encontro com o governador Aécio. Hoje pela manhã, encontra-se também com o prefeito Pimentel.

Segundo Ciro, muitos ainda não compreenderam a grandeza do que está acontecendo em BH. Na sua avaliação, a aliança que vem sendo articulada pelos dois políticos mineiros é um exemplo do diálogo que precisa existir em prol do que é melhor para a administração e não em troca de cargos, frações de poder.

"A escória da política não tem espaço (nessa aliança)", comentou ele, sem citar nomes de legendas ou políticos. O PMDB ligado ao ministro Hélio Costa é um dos grupos que mais têm reclamado da articulação entre PT e PSDB e prometem lançar uma candidatura para enfrentar o projeto de Pimentel e Aécio.

O ex-ministro da Integração Regional afirmou ontem que é "natural" a indicação de um nome do PSB por tucanos e petistas, para a prefeitura de BH. Ele lembrou que seu partido tem facilidade de diálogo com os dois partidos - e não espera nada em troca. Para ele, o atual secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Márcio Lacerda (PSB) - o mais cotado até o momento - é um nome "extraordinário". Mas que ele apoiará outro nome que vier a ser indicado pelos dois partidos.

Aécio Neves confirmou ontem que Ciro Gomes tem participado da articulação dessa aliança desde as primeiras reuniões com Fernando Pimentel. Ontem, o governador voltou a dizer que gostaria que a aliança entre tucanos e petistas pudesse ter reflexo fora de Minas Gerais, que pudesse inspirar mais diálogo entre os políticos.

Para Ciro Gomes, é cedo para dizer se a aproximação entre PSB, PSDB e PT em Belo Horizonte terá reflexos em 2010. Poderá significar muito ou nada, explicou o deputado. Ainda é cedo, afirmou ele, para dizer se há chances de ele e Aécio estarem juntos numa mesma chapa para disputar a Presidência da República. O ex-governador do Ceará disse que não precisa ser necessariamente candidato e que, em determinadas circunstâncias, votaria com gosto em Aécio Neves para presidente. "Não dá para saber."

Ciro Gomes elogiou ontem as medidas adotadas pelo governo Lula que garantiram o aumento das reservas brasileiras. Segundo ele, o Brasil jamais esteve tão preparado para enfrentar os reflexos de uma grave crise financeira internacional, como a atual crise no mercado americano. O impacto no mercado brasileiro, avaliou ele, não deverá ser drástico. Mas frisou que determinadas correções na política comercial e cambial poderiam minimizar ainda mais os impactos. O deputado preferiu não explicar que correções seriam essas. "Tem coisa que é melhor fazer do que falar."