Título: Lula dá bronca em ministros por dados imprecisos do PAC
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2008, Política, p. A6

Sob o pretexto de agradecer o empenho de servidores públicos designados como gestores do PAC, Lula deu uma bronca ontem em ministros que lhe entregam números errados e reconheceu que o principal programa de seu segundo mandato carece de informações confiáveis. "Dependendo de quem você fala, se você falar com três pessoais em cada ministério, você terá três informações diferenciadas", reclamou o presidente.

Gabando-se de sua boa memória - "se você me disser um número um mês atrás pode ter a certeza que eu vou guardar" - Lula disse que, a partir de agora, só vai citar em discurso números encaminhados pelos ministros, por escritos e assinados de próprio punho. Ele disse que já cansou de anunciar, por exemplo, investimentos de R$ 170 milhões em alguma coisa e, depois, chega em suas mãos um papel escrito que são R$ 144 milhões. "Qualquer um pode passar por mentiroso, menos o presidente da República", completou.

Lula, que há duas semanas chamou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff de "mãe do PAC", repetiu ontem o elogio, reconhecendo o esforço dela em cobrar empenho dos demais colegas de Esplanada. "Os companheiros precisam compreender. Às vezes o capitão de um time é obrigado a xingar o jogador do próprio do time que não está suando a camisa direito", disse o presidente.

Diante de Dilma e outros cinco ministros - Edison Lobão (Minas e Energia), Márcio Fortes (Cidades), José Gomes Temporão (Saúde), Alfredo Nascimento (Transportes) e Guido Mantega (Fazenda) - Lula reclamou de ministros que confirmam para ele o bom andamento de obras para serem visitadas e quando o Planalto vai agendar uma visita ao local, descobre que nada está pronto. Segundo o presidente, essa foi a razão para o cancelamento da viagem a Curitiba, onde Lula assinaria ordens de serviço do PAC Saneamento e Habitação. Ele acredita que o mesmo pode acontecer semana que vem em Recife, onde também pretende dar o início a algumas obras de reurbanização de favelas.

Lula afirmou que não há desculpas para que isso aconteça. "Nós temos dinheiro, coisa que não tínhamos no passado. Temos a decisão política de fazer, coisa que não se tinha no passado, porque era tudo para o superávit primário. Temos as obras definidas, as necessidades do governos estaduais e municipais", enumerou. "Sabe o que é que triste? Há um ano e meio estamos com esse programa para que as pessoas se dediquem de corpo e alma 24 horas por dia. Por que vai acontecer com meu amigo Guido Mantega e Paulo Bernardo? Quando chegar no final do ano e a gente for prestar contas e a gente não gastou o que estava previsto, vão dizer: esse governo não tem capacidade de execução", afirmou o presidente.

Para Lula, todos - presidente, ministros e servidores públicos - têm o compromisso moral e ético de gastar bem cada real que colocado no PAC. "Se tudo isso der certo, quando chegar em 2010, quem sabe a gente não esteja comprometendo apenas mais R$ 504 bilhões? Vamos arrecadar mais, a economia vai crescer, quem sabe a gente não faz um Pacão aí de R$ 1, 8 trilhão, o dobro do que nós fizemos agora?", desafiou o presidente.