Título: A revanche da renda fixa
Autor: Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, EU &, p. D1

Ano do Galo no horóscopo chinês, 2005 promete ser para os investidores o ano da renda fixa. A preocupação do Banco Central (BC) com a inflação deve elevar a taxa de juros ainda por alguns meses e mantê-la em alta por um bom tempo. Com isso, enquanto os que precisam de crédito se desesperam, cresce o ganho de quem aplica em fundos de renda fixa, DI, títulos federais e CDBs. Usando como referencial a taxa de juros de swap (troca de taxas) de um ano entre bancos, de 18,65% na quarta-feira, e descontando a inflação projetada pelo IPCA, de 5,62% de fevereiro deste ano a janeiro de 2006, o juro real seria de 12,34%, segundo cálculos do Valor Data. Pelo IGP-M, projetado em 6,32%, o juro real seria ainda alto, de 11,60%. Descontando o imposto de renda - usando a nova alíquota de 17,5% para aplicações de mais de um ano-, o ganho real líquido do investidor que conseguisse essa taxa ficaria em 9,25% no caso do IPCA e em 8,53% no do IGP-M. Um dos maiores retornos do mundo, afirmam analistas. A dúvida entre os especialistas é com relação a qual será o teto para os juros nos próximos meses. A expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) puxe a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual neste mês, para 18,75%. Em março, há dúvidas entre 0,5 e 0,25 ponto de aumento. A decisão deverá ser tomada a partir dos próximos números de inflação e de atividade econômica. Outra questão é quando a taxa poderá voltar a cair, o que deve acontecer apenas no segundo semestre. Essas dúvidas aumentam o risco dos papéis prefixados, mas podem significar a chance de ganhos caso o BC baixe o juro antes do esperado. Este ano será muito bom para a renda fixa, com boas oportunidades para o investidor, diz o economista Antônio Madeira, da MCM Consultores. Os mais conservadores têm como opção os fundos DI para o caso de o BC surpreender e subir as taxas além do esperado. "Trabalhamos com mais um ou dois aumentos na taxa de juros." O retorno deve ser bom especialmente no primeiro semestre, quando os juros devem permanecer mais altos. Madeira lembra que desde 2003, ainda no rescaldo da turbulência de 2002, o investidor não tinha a chance de obter juros reais de dois dígitos. A MCM estima um juro acumulado neste ano para o CDI de 18%, acima dos 16,62% do ano passado. "Se a inflação ficar em 5,80% pelo IPCA, será um juro real de 11,5%", diz. "Uma taxa interessante com baixo risco." Caso o investidor queira arriscar mais, pode tentar um papel prefixado ou um fundo de renda fixa. "O mercado futuro de DI projeta 18,80% ao ano para 11 meses, é uma taxa boa", avalia Madeira. Mesmo no curtíssimo prazo, três meses por exemplo, o juro está interessante, em 19%, diz. Mas aí há o problema do imposto de renda maior, de 22,5% até seis meses, que pode comer parte do ganho. Em relação a outros mercados, a renda fixa deve apresentar vantagens este ano. O dólar pode continuar fraco em relação ao real justamente por causa dos juros altos no Brasil, que atraem investimentos internacionais. "Dólar só vale a pena para quem tem algum compromisso futuro, como viajar, e mesmo assim o ideal é comprar aos poucos, para evitar comprar na máxima", diz Madeira. Também a bolsa deve sofrer com a Selic alta. "Há estimativas de que o Ibovespa chegue a 32.000 pontos, o que significaria um ganho de 22%, um prêmio pouco atrativo em relação ao risco tendo em vista a projeção de quase 19% para a renda fixa." O receio do BC e do mercado é de que o aquecimento da economia continue forte e estimule mais repasses de preços e mais inflação, o que exigiria novos aumentos dos juros, diz Carlos Otero, diretor de Renda Fixa da Bradesco Asset Management (BRAM). "Se o aquecimento continuar - e o cenário externo e o dólar estável favorecem isso -, o juro pode subir mais e não cairá tão cedo", diz. Para ele, vale a pena ter um pouco de prefixados em carteira e ficar atento aos sinais da economia, especialmente atividade econômica e inflação. Eduardo Berger, sócio da Proventus Invest, espera que os efeitos da alta dos juros no ano passado comecem a aparecer nos próximos meses. "Quando isso estiver mais claro, o processo tende a chegar ao final e isso abre espaço para ganhos com prefixados", diz. Ele considera que, com uma taxa real de juros projetada em torno de 12% ao ano, pode ser interessante fazer uma aplicação mais longa em prefixados. "Há um certo risco, mas o investidor pode começar a fazer esse tipo de diversificação", diz.