Título: Aliança estratégica beneficia Embraer
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Brasil, p. A2

A "aliança estratégica" a ser consolidada em 22 acordos, hoje, pelos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, tem um forte componente tecnológico e militar. As empresas brasileiras Embraer e Atech já tiram proveito da decisão do presidente venezuelano de eliminar a influência dos EUA e buscar novos fornecedores para as necessidades do país nesses campos. Com o acordo de cooperação a ser assinado hoje pelos dois presidentes a Embraer espera confirmar negócios que chegam a US$ 500 milhões em uma primeira fase, que incluirá a venda de 12 aviões caça AMX-T, modernização dos Tucano já em operação, e a venda de 24 aviões de patrulha super-Tucano. A Atech, responsável pelos programas de computador que integraram o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), dará, na Venezuela, o primeiro passo para internacionalizar-se, com negócios de US$ 2,3 milhões, os primeiros de vulto para a empresa. Para concretizar a compra dos aviões da Embraer será fundamental pôr em prática o mecanismo de garantia aos financiamentos que os presidentes irão assegurar também em um acordo a ser firmado hoje pelos dois governos, destinado a viabilizar o Convênio de Crédito Recíproco, pelo qual os países assumem parte do risco de crédito. Tanto a compra dos AMX-T quanto a dos super-Tucano chegaram a constar da programação orçamentária do governo venezuelano, mas foram adiados por falta de financiamento do BNDES, que exigiu garantias pelo CCR. "Esperamos que, desta vez, as manifestações de amor entre os dois países gerem uma criança", diz, bem-humorado, o representante da Embraer Johnny Oliveira. Os militares venezuelanos defendem entusiasmados a associação com as empresas brasileiras, com o argumento de que o Brasil desenvolveu tecnologia sofisticada em radares e sensores. Eles têm interesse comum em patrulhar a Amazônia, estendendo aos vizinhos a experiência do SIVAM - os venezuelanos planejam criar um sistema semelhante. A compra dos AMX-T deve esperar a remodelação do avião para a Força Aérea Brasileira, em 2007. Como contrapartida, a Embraer negocia a possível transferência de tecnologia para venda e montagem na Venezuela de aviões Ipanema (agrícola) e Brasília. Chávez conta com a compra dos super-Tucanos como uma de suas iniciativas para diversificar seus fornecedores de armamentos e equipamento tecnológico. A compra de armas de fornecedores russos pela Venezuela despertou preocupação do governo americano, que insinuou a possibilidade de desvio desse equipamento para os rebeldes na vizinha Colômbia. Lula chega à Venezuela logo após uma grande avalanche provocada por chuvas, com pelo menos três mortos, acidente que faz lembrar catástrofe dos anos 80, responsável por mais de 20 mil mortes na mesma região. O acidente reforça o interesse dos venezuelanos em montar um sistema de monitoramento meteorológico, o Venemet, já contratado com tecnologia européia. A Atech assessorá o país na adaptação da tecnologia, com um projeto de US$ 1 milhão. Um segundo projeto, de US$ 1,3 milhão, deverá modernizar o sistema de tráfego aéreo do maior aeroporto do país. "O acordo é a chave para abrir o mercado dos países vizinhos", diz o diretor da Atech, Geraldo Azevedo. (SL)