Título: Polícia tem 4 suspeitos para assassinato de freira
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Brasil, p. A2

A Polícia Civil do Pará já tem os nomes dos quatro suspeitos de participar do assassinato da missionária Dorothy Stang, morta no sábado em Anapu, no oeste do Estado. A polícia mantém os nomes em sigilo, mas confirmou que dois dos suspeitos são pistoleiros. Dorothy trabalhava há mais de 30 anos no Estado defendendo trabalhadores rurais e lutando por seu assentamento em terras tomadas por madeireiras. Na semana passada, ela teve uma reunião com o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. No encontro, a missionária denunciou que pessoas da região estavam recebendo ameaças de morte. Dorothy pertencia à ordem das Irmãs de Notre Dame de Namur, um grupo de mais de duas mil mulheres que trabalham em cinco continentes. Dados preliminares da perícia revelam que a freira, que nos últimos meses estaria agindo para expulsar agricultores de um lote incluído no projeto de assentamento rural de Anapu, teria sido morta com nove tiros, a maioria no tórax e na cabeça. A Polícia Federal abrirá inquérito para investigar a morte da freira. A PF vai atuar em parceria com a polícia civil estadual, informou nota divulgada pelo governo federal ontem à tarde. A nota acrescenta que o procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, e o Ouvidor Agrário Nacional, Gercino José da Silva, seguiriam ainda ontem para o Pará. Pela manhã, um encontro em Altamira reuniu os ministros Nilmário Miranda, Marina Silva (Meio Ambiente), o presidente do Incra, Roulf Hackbart, e o bispo de Altamira, Erwin Krautler, além de autoridades locais. Amanhã, haverá uma reunião em Brasília para discutir o assunto e buscar uma solução para a crise na região. Participarão a ministra Marina Silva, os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Ciro Gomes (Integração Nacional). Na nota, os ministros asseguram que os projetos federais em andamento no Pará não serão suspensos. O ministro Nilmário Miranda permanecerá no Estado nos próximos dias em busca "de uma solução rápida e pacífica". Ontem, em Brasília, o assassinato da freira repercutiu bastante. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que o governo não está parado e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), defendeu a suspensão das negociações em curso do setor público com os madeireiros até que o caso seja esclarecido. "O governo mobilizou todos os recursos a seu alcance para esclarecer definitivamente o assassínio da freira e prender e punir os autores e os mandantes. É um crime tipicamente encomendado", Rebelo. Sobre a repercussão internacional, Rebelo respondeu: "O importante é que o governo investigue a fundo".