Título: Ouro recua 4,41%, mas pode alçar novos recordes
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2008, EU & Investimentos, p. D2

O ouro teve forte baixa ontem, diante de especulações de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode diminuir o passo no seu processo de redução da taxa primária da economia, o juro dos "fed funds". Na reunião de terça-feira, cogitava-se um corte de até 1 ponto percentual, mas a decisão, não unânime, foi por 0,75 ponto. Com os juros sensivelmente acima do que o mercado esperava, o apelo dos títulos de dívida ficou maior e o interesse por commodities, entre elas o ouro, caiu. Ao menos pontualmente.

Os contratos de ouro para abril caíram ontem 4,41%, para US$ 940,63 a onça-troy (31,1 gramas) na Comex, divisão da New York Mercantile Exchange, perdendo a barreira do US$ 1 mil conquistada recentemente. No ano, porém, ainda ganham 12,01%.

Para Christian Baha, CEO da gestora austríaca Superfund, o ouro ainda quebrará novos recordes, podendo bater os US$ 2 mil em três anos. "Isso será causado não só pelo aumento das preocupações com redução da produção, especialmente da África do Sul, como também pelo enfraquecimento do dólar." Ele lembra que, nas emergentes e vigorosas economias da Índia e da China, os investidores preferem fazer poupança no metal precioso, em vez de aplicar em papéis e divisas. "Mesmo em situações inflacionárias, durante guerras ou conflitos, o ouro tem provado ser um sólido e confiável meio de transações." Porém, com o rali recente, o risco de manter o metal em carteira nos atuais níveis de preços aumentou.

Depois de a debacle imobiliária americana ter se transformado numa crise de crédito - com efeitos sobre a liquidez e a saúde dos bancos - a inflação e o contínuo enfraquecimento do dólar seguem como foco de preocupação, diz Baha. Ele aposta no franco suíço e no dólar canadense como as moedas com maior potencial de ganhar valor em relação à divisa americana.

No Brasil, apesar dos últimos repiques em relação ao real, é limitado o espaço para a moeda americana avançar sobre a brasileira, diz o gerente de Tesouraria do Banco Itaú, Ronie Germiniani. "A redução dos juros pelo Fed aumentou o diferencial entre a taxa local e internacional, favorecendo largamente as operações de arbitragem." Outro pilar, afirma, são os preços elevados das commodities, além das reservas num nível sem precedentes na história brasileira.

Para Germiniani, se houver uma reversão efetiva nas commodities, isso tende a afetar mais a Bovespa do que o real. "Pode diminuir a velocidade de valorização, mas o dólar vem caindo em todo o mundo e há cada vez mais estrangeiros interessados em operar a moeda brasileira."