Título: Com aval de Lula, aliança com tucanos é submetida ao PT
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2008, Política, p. A10

Vaccarezza: "Nossas alianças com PSDB e DEM são mais comuns do que parece" Com a cúpula dividida, o Diretório Nacional do PT realiza reunião, hoje, em Brasília, para deliberar sobre coligações nas eleições municipais. No foco do debate estão as alianças com os adversários PSDB e DEM e, principalmente, o caso da prefeitura de Belo Horizonte. Na capital mineira o petista Fernando Pimentel uniu-se ao governador tucano Aécio Neves para apoiar o atual secretário de desenvolvimento econômico de Minas, Márcio Lacerda, um aliado de Ciro Gomes, do PSB. Opiniões manifestadas antes da reunião revelam que a aliança em Minas já está adiantada demais e teve o beneplácito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, razões suficientes para ser aceita pelo diretório.

Como regra geral, porém, a maioria vem pedindo preferência para coligações com partidos aliados no plano nacional.

Em jantar, na semana passada, o grupo ligado ao ex-ministro José Dirceu fechou posição contra qualquer tipo de aliança. Mas petistas de outras correntes, como o secretário-geral José Eduardo Cardozo (SP), da mensagem ao partido, e o deputado Cândido Vacarezza (SP), do grupo martista, acreditam que exceções como Belo Horizonte e outras devem ser levadas em conta no debate.

O antigo campo majoritário busca uma definição mais nítida. O grupo, rebatizado de Construindo um Novo Brasil, marcou uma reunião para a manhã de hoje para fechar questão contra alianças com tucanos e democratas. Aniversariante da semana passada, Dirceu reuniu em sua casa ministros como Dilma Roussef, José Múcio Monteiro, Orlando Silva e até o vice-presidente José Alencar. Uma parte do grupo manifestou-se contra a parceria com o PSDB.

A polêmica dividiu o partido em três grupos: há os que são radicalmente contra, entre eles um bom número de comandantes do campo majoritário; há aqueles que apóiam a aliança com os adversários no plano federal, como Pimentel, Jaques Wagner, Jorge Viana; e aqueles que estão evitando tomar posição oficial e pública, e esperam ficar assim. O presidente Lula estaria inserido nesse último grupo. Lula foi consultado por Pimentel antes da questão ser levada ao diretório estadual de Minas. Recebeu sinal verde para a aliança com Aécio, um tucano bem próximo do Planalto.

Para o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), a tendência do Diretório deve ser priorizar alguns aliados como PSB, PCdoB e PDT, e analisar algumas situações excepcionais, como Belo Horizonte. "A linha geral é não desvirtuar a trajetória para 2010. Mas não creio que esse encontro vá colocar o dedo na ferida desde já, acho que os diretórios estaduais terão peso importante nesse debate", afirmou.

Nas contas de alguns petistas, BH é praticamente favas contadas. "O Pimentel não é um irresponsável. Conseguiu o apoio da base do partido no Estado. Não há como o Diretório Nacional reverter esse cenário", acredita o deputado Cândido Vacarezza (SP), um dos parlamentares mais próximos de Dirceu na bancada petista. Existe ainda um complicador nessa discussão: se os aliados preferenciais são PSB, PCdoB e PDT, como vetar Márcio Lacerda, filiado ao PSB?

"O Brasil é grande demais e as coligações com tucanos e democratas são mais comuns do que parece", reforçou Vacarezza. Estima-se que elas sejam mais ou menos 70 em todo país - apenas em São Paulo são mais de 30. "Em vários municípios o PSDB e o DEM têm posições políticas mais próximas de nós do que muitos aliados do plano nacional", afirmou Vacarezza, que é ligado à ministra do Turismo, Marta Suplicy.

Segundo informou um petista, o grupo de José Dirceu terá que se render às alianças. "Tem aliados dele na mesma situação em São Paulo", disse um petista da Executiva.