Título: Eleição testa força e coesão do governo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Política, p. A8

Os 513 deputados escolhem hoje, a partir das 16h, quem comandará a Câmara nos dois últimos anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sucessão passou a ter componentes políticos delicados a partir do momento em que divergências internas colocaram na disputa dois candidatos do PT, o que dividiu a base aliada e comprometeu a força política das decisões partidárias. A reportagem do Valor ouviu os dois candidatos petistas não por considerá-los os com maiores chances de vitória, mas devido às implicações políticas da disputa, que está ligada à governabilidade do país. O candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), emagreceu seis quilos durante a campanha e confessou ao Valor que esse foi seu maior aprendizado político. Virgílio Guimarães (MG), em vários momentos, reagiu com destempero às perguntas da reportagem, especialmente quando questionado sobre o apoio que recebeu do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), considerado hoje pelo PT o principal opositor de Lula.

Além de Greenhalgh e Virgílio, disputam a presidência José Carlos Aleluia (PFL-BA), Severino Cavalcanti (PP-PE) e Jair Bolsonaro (PFL-RJ). Até uma hora antes da disputa os parlamentares podem retirar ou apresentar candidaturas. Há disputas também em todos os cargos da Mesa Diretora. Hoje, os partidos decidem os candidatos oficiais. O governo trabalhou intensamente nos últimos dias para garantir a vitória de Greenhalgh no primeiro turno. Ministros e líderes aliados, cobrados, envolveram-se na campanha e aos poucos perderam o entusiasmo com a candidatura de Virgílio. Vence o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos. Pelos cálculos da base, Greenhalgh terá pelo menos 250 votos de aliados, podendo chegar a 280 - uma contabilidade que aposta na boa vontade do PSDB. Já na oposição, parlamentares apostam num segundo turno entre Greenhalgh e Severino, que conta com a simpatia de boa parte dos deputados por seu compromisso com a manutenção de privilégios administrativos. O quadro otimista traçado pelo governo pode sofrer reveses. Ontem, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso conversou por telefone com pefelistas e comprometeu-se em garantir o maior número possível de votos a Aleluia. A bancada do PSDB reúne-se hoje pela manhã para tomar uma decisão. FHC defende a tese de que a oposição precisa marchar unida. Até o fim de semana, uma corrente de governistas apostava na desistência de Aleluia. O prefeito do Rio, Cesar Maia, passou os últimos dias tentando convencê-lo a recuar. O empenho de Maia teria aumentado depois que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho aliou-se a Virgílio. Maia e Garotinho são pré-candidatos à Presidência da República em 2006. Aleluia e os pefelistas negam a desistência. Na noite de ontem, a cúpula do PFL reuniu-se em jantar para fazer uma última sondagem de votos. "A chance de Aleluia desistir é rigorosamente igual à zero. A questão do Rio passa ao largo dessa disputa na Câmara", disse o líder do PFL no Senado e vice-presidente do partido, José Agripino (RN). Ontem, em reunião da bancada do PT, os petistas foram avisados de que terão que abrir mão da presidência da Ouvidoria da Câmara, do Conselho de Ética, de algumas comissões temáticas e também não indicarão suplências na Mesa Diretora. Tudo faz parte de um grande acordo para eleger Greenhalgh. A decisão da Executiva Nacional do PT de fechar questão em torno do apoio a Greenhalgh dificulta ainda mais a situação política de Virgílio. Em nota, a Executiva comunica "que a candidatura do deputado Virgílio Guimarães não tem o aval da bancada nem da direção nacional do PT e não representa a legenda". O PT pede ainda que Virgílio retire a candidatura avulsa.