Título: Venda de champanhe bate recorde no Brasil e no mundo
Autor: Fernandes , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2008, Empresas, p. B4

Os brasileiros nunca tomaram tanto champanhe francês. Em apenas três anos, as exportações da bebida para o Brasil aumentaram 54%, passando de 388 mil garrafas em 2004 para 600 mil no ano passado, segundo o Comitê Interprofissional do Vinho de Champagne (CIVC), com sede na cidade de Epernay. "O Brasil teve uma das maiores progressões de venda no mundo. É um mercado muito importante para nós, que representa um futuro muito promissor", diz Daniel Lorson, diretor da organização, que reúne agricultores, fabricantes e o governo francês.

Os produtores de champanhe estão brindando e não só por causa da beleza das paisagens da região. Nunca a bebida foi tão consumida: as vendas em 2007 bateram novo recorde, com 338,7 milhões de garrafas vendidas, um aumento de 5,3% em termos de volume. Em relação ao faturamento, que atingiu ? 4,6 bilhões, o crescimento é ainda maior, de 9,1%, devido ao reajuste médio de 3,6% nos preços.

É sobretudo o sucesso no exterior desse vinho com "bolhinhas", símbolo da alta gastronomia francesa, que vem contribuindo para a expansão do setor. As exportações, que representavam no início dos anos 80 um terço das vendas, respondem hoje por 45%, o que corresponde ao triplo em termos de volume. Em 2007, foram exportadas quase 151 milhões de garrafas para 190 países, novo recorde e aumento de 7,3% em relação a 2006. A União Européia (excluída a França, maior consumidor mundial da bebida) é o destino de 61% das exportações totais, mas os mercados emergentes têm participação cada vez mais importante nos excelentes resultados e registram taxas de crescimento amplamente degustadas pelos produtores. Na Rússia, as vendas aumentaram 41% em apenas um ano, atingindo em 2007 mais de 1 milhão de garrafas vendidas. Na China, o volume é ligeiramente superior ao do Brasil, com 656 mil garrafas, aumento de 30% em relação a 2006. A progressão de vendas no mercado chinês foi multiplicada por nove em apenas cinco anos, segundo o CIVC.

Diante de uma demanda que não pára de aumentar, o governo francês decidiu, pela primeira vez em mais de 80 anos, ampliar a área geográfica dos vilarejos autorizados a produzir o champanhe. Na prática, aumentará o número de terras onde serão plantadas as uvas usadas na fabricação da bebida. O setor de vinhos e champanhes é extremamente regulamentado na França. Não pode ser chamada de champanhe uma bebida produzida fora da área precisa inscrita na lei. Atualmente, 319 vilarejos têm autorização para plantar uvas destinadas ao champanhe. A nova extensão territorial prevê que cerca de 40 outros deverão obter o título Appellation d´Origine Contrôlée (AOC) Champagne.

A lista das cidades escolhidas e felizardas, já que o preço do hectare vai passar de 100 mil euros para 1 milhão de euros, deve ser divulgada oficialmente até o fim deste mês. Mas vai demorar bastante até que o consumidor possa degustar o champanhe dessas novas áreas. O processo todo levará vários anos. Depois da publicação dos nomes dos vilarejos, uma espécie de lista de "indicados ao Oscar", as cidades descontentes por terem ficado de fora poderão entrar com um recurso administrativo. A relação definitiva dos locais só será anunciada no próximo ano, segundo o Instituto Nacional da Origem e da Qualidade (INAO), que deu o sinal verde para a ampliação da área geográfica do champanhe.

Depois disso, começará o trabalho dos especialistas, que vão escolher, de acordo com critérios técnicos e científicos, as parcelas precisas de terra onde poderão ser plantadas as uvas para a produção da bebida. Esse trabalho somente deve acabar em 2015. As primeiras colheitas só devem ocorrer três anos depois. E o fabricante deverá esperar ainda dois ou três anos para vender seu produto, o que não irá ocorrer, portanto, antes de 2020.

Por isso, ainda é cedo para que os grandes fabricantes comecem a se movimentar para adquirir terras ou fazer acordos com proprietários dos terrenos, estima Daniel Lorson, do CIVC. "As novas parcelas agrícolas somente serão conhecidas em 2015. Um vilarejo pode integrar a lista, mas isso não significa que qualquer terra dessa área possa utilizar a denominação Champagne", acrescenta.

Para o diretor-geral da União dos Fabricantes de Champagne (UMC, na sigla em francês), David Châtillon, "as 'maisons' de champagne desejam que o processo conduza ao máximo de superfícies agrícolas e, permita, ao mesmo tempo, a melhoria da qualidade". Segundo Lorson, do CIVC, os critérios para a seleção das novas terras serão mais rigorosos do que em 1927, quando foi definido o perímetro atual da denominação "champagne", porque hoje os conhecimentos técnicos sobre os solos, exposição solar, entre outros, são mais amplos . "O objetivo não é apenas crescer por crescer, mas também melhorar a qualidade do produto", diz o diretor do comitê interprofissional do setor. Por esse motivo, também já se sabe que dois vilarejos serão excluídos da área atual.

De acordo com estimativas do setor, enquanto o mercado francês é extremamente diluído (o líder teria apenas cerca de 3% das vendas), em razão do grande número de produtores, que chegam a milhares, muitos de pequeno porte, o mercado internacional é assunto para poucas marcas, como Veuve Clicquot e Moët & Chandon (grupo LVMH), Mumm e Laurent-Perrier, que têm volumes e capacidade para exportar. O grupo LVMH, que possui ainda as marcas Kruger, Mercier e Ruinart, representaria, de acordo com estimativas de comerciantes, um terço das exportações mundiais.

Para Lorson, a ampliação do número de terras que terão autorização para produzir a bebida deve beneficiar sobretudo as grandes marcas. "Elas poderão aumentar a produção e expandir as vendas ao exterior", observa. A "saúde" do champanhe ainda será muito brindada.