Título: Metais e petróleo caem, mas os preços ainda são elevados
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2008, Empresas, p. B8

As movimentações de fundos de hedge impactaram novamente as cotações das commodities metálicas e do petróleo na última quinta-feira, mas desta vez com maior intensidade, levando parte do mercado a cogitar até a possibilidade de uma bolha nos preços. No entanto, mesmo com a previsão de maior nervosismo nos mercados nas próximas semanas, a opinião de analistas e empresários ligados à produção e comércio de commodities é de que os níveis atuais - considerados elevados - devem ser mantidos pelo menos até o final do primeiro semestre.

A seqüência de baixas nas cotações verificadas na semana passada é classificada como um ajuste técnico, desencadeado pelos fundos de hedge, e por enquanto não afetam os fundamentos de preços das commodities, em especial das metálicas. Na opinião de Reginaldo Takara, analista da Standard & Poor's, os fundamentos de oferta e demanda continuam favorecendo a manutenção de patamares elevados de preço. "Mesmo vulnerável à tensão mundial, existe uma demanda ainda crescente na Ásia", diz Takara, ao ressaltar que o preço do minério de ferro, que não é negociado em bolsa, foi reajustado em 65% neste ano por causa da previsão de maior procura, principalmente de mercados emergentes. As usinas de aço buscam a matéria-prima para suprir seus altos-fornos.

A queda da semana passada chegou a desvalorizar em 11,25% o preço do alumínio e em 9,71% o do cobre (cotação para entrega em três meses). No caso do alumínio, Alexandre Almeida, diretor financeiro da Novelis, acredita que um recuo mais significativo só será possível se houver uma sobreoferta de energia no mundo, previsão inexistente hoje. "Os custos estruturais realmente inviabilizam preços como os de 2005, que eram abaixo de US$ 2.200 a tonelada".

Na quinta-feira, a tonelada do alumínio para entrega em três meses na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) desvalorizou 3,24%, terminando o dia a US$ 2.808. O chumbo caiu 5,8%, a US$ 2664. O preço do estanho ficou em US$ 19.650 (queda de 5,07% comparado com o pregão anterior). Zinco e níquel fecharam o dia com baixas de 5,97% e 4,36%, a US$ 2.285,50 e US$ 28.500.

O cobre, que em março atingiu a máxima histórica de US$ 8.810, encerrou a quinta-feira valendo US$ 7.665 a tonelada. Apesar de o metal perder o patamar de US$ 8 mil, Luiz Manreza, analista do Standard Bank, não enxerga uma inversão de tendência. "O cenário negativo ainda prevalece no curto prazo tanto para o cobre como para os demais metais, mas nada impede que depois de absorvidas as questões macroeconômicas possa ocorrer um novo rali nas cotações", afirma.

Em relação aos preços verificados no ano passado, os metais negociados em bolsa, com exceção do níquel e do zinco, contam com valorizações que chegam a 34,9%, como é o caso do estanho. O cobre está em alta de 7,8% no ano, seguido pelo alumínio com 5,5% e pelo chumbo com 3,4%.

"O fato é que tem um desequilíbrio entre oferta e demanda. O aumento líquido vem da Ásia, mas Estados Unidos e Europa seguem com seus níveis de consumo", afirma Takara.

Em relatório, o Banco Itaú reforçou a tese de que há fundamentos que justificam as últimas elevações nos preços dos metais e também do petróleo. De acordo com a análise, "os fundamentos continuam positivos, impondo assim um limite à queda das commodities". Segundo Tulio Bueno, analista do Itaú, desde 2005, empurrados por um crescimento mundial elevado e especialmente por vultosos investimentos chineses em infra-estrutura, os preços dos metais se elevaram.

No caso do petróleo, fundamentos como capacidade de produção e demanda sustentam uma parte significativa das recentes elevações dos preços. Chakib Khelil, presidente da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), afirmou à TV estatal da Argélia durante o feriado que o preço do petróleo se manterá, apesar das recentes quedas, em torno dos US$ 80 e US$ 110 por barril.

Khelil atribuiu à desvalorização do dólar a contínua alta dos preços do petróleo nos mercados internacionais. Para o presidente da Opep e também ministro da energia na Argélia, a baixa do dólar fez especuladores investirem no mercado de petróleo em busca de retornos maiores do que os obtidos em outros segmentos.

Ainda que em queda, o petróleo encerrou a quinta-feira acima de US$ 100 em Londres e Nova York. O contrato de WTI para maio fechou cotado a US$ 101,84, com recuo de US$ 0,70. O vencimento para junho caiu US$ 0,57, para US$ 101,06. Em Londres, o barril de Brent transacionado para maio cedeu US$ 0,34, para US$ 100,38. O contrato para junho encerrou a US$ 100,13, com desvalorização de US$ 0,36. (Com agências internacionais)