Título: João Paulo deixa a presidência de olho em São Paulo
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Política, p. A9

Ao deixar hoje a presidência da Câmara, o deputado petista João Paulo Cunha volta para a "planície" do plenário com um desafio: credenciar-se como possível candidato do PT para disputar o governo de São Paulo em 2006, ocupando ou não um ministério na reforma do primeiro escalão que o presidente Luiz Inácio da Silva deve anunciar nos próximos dias. Em entrevista ao Valor, João Paulo fez um rápido balanço de sua gestão, que considera positiva, e defendeu que o PT discuta com maturidade a sucessão em São Paulo. "Já lançamos candidato com boa performance em pesquisa inicial e que perdeu a eleição. Já escolhemos um quadro partidário e perdemos a eleição. Já escolhemos uma pessoa boa de discurso que perdeu a eleição. Já escolhemos as mais diversas personalidades. A escolha agora não pode ser somente o desejo de alguém. Tem que ser uma análise bem amadurecida do perfil adequado para disputar o governo", disse João Paulo, que terá como possíveis adversários no PT Marta e Eduardo Suplicy, Aloizio Mercadante e José Genoino. O deputado de Osasco avalia que o partido deve "fazer um bom diagnóstico sobre São Paulo e uma boa análise do significado do governo Geraldo Alckmin (PSDB), seus acertos e erros". João Paulo reconheceu que foi um erro político ter apostado todas as fichas na votação da emenda constitucional que permitiria a sua reeleição e a de José Sarney. Considera, no entanto, que o episódio foi superado sem mágoas dentro do governo. "Acabei sendo levado por esse debate da reeleição e não deveria ter embarcado nessa. Deveria ter tido um pouco mais de sensibilidade e evitado discutir essa questão. Inclusive porque muita gente que ajudou a derrotar a emenda da reeleição hoje faz um movimento absolutamente contra o governo, como é o caso do Garotinho. Fiquei numa situação muito incômoda, mas já passou e tenho que tocar a bola para a frente", admitiu. João Paulo considera que atuou com independência na presidência da Câmara. "Não me considero subserviente nem na condição de presidente em relação ao Executivo, nem na minha condição de deputado e na minha relação humana. Voltando ao exercício normal do meu mandato, vou continuar exatamente com a mesma postura. As coisas certas vou aplaudir. Os erros vou continuar apontando e ajudando a consertar eventuais desacertos que apareçam no próximo período", afirmou. Sobre os desacertos do próprio PT durante a sucessão da presidência da Câmara, o deputado apenas observou que, se houve algum erro, a história, a unidade do partido e as relações internas não podiam ter sido comprometidas. "Essa foi uma experiência não muito boa que a gente não precisa repetir. Já disse ao Virgílio que achava um erro grave a manutenção da candidatura dele. Esse erro foi agravado e potencializado nos últimos dias com determinadas opções políticas de apoio feitas por ele. É um episódio que a gente tem que condenar na pessoa do Virgílio, mas evidentemente não podemos condená-lo à morte", concluiu. João Paulo considera que seu principal acerto foi ter dado celeridade à votação de matérias importantes, como as reformas tributária, previdenciária e do Judiciário, a Lei de Falências e o projeto das parcerias público-privadas. O desafio do próximo presidente, disse ele, será concluir essas reformas, especialmente a tributária. (MLD)