Título: Oposição e governo disputam ascendência sobre Renan no Senado
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Política, p. A9

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deverá ser eleito hoje presidente do Senado, sem que o Palácio do Planalto tenha tido um peso central em sua ascensão. O pemedebista construiu a sua eleição desarticulando a manobra para a reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado, apoiada pelos diretamente interessados, o atual presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP) e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). O comando político do Executivo dividiu-se em relação ao tema: o ministro da Casa Civil, José Dirceu, apoiou a reeleição. Já o coordenador político do governo, ministro Aldo Rebelo, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), ficaram do lado do alagoano. Renan venceu a disputa quando manteve o PMDB ao seu lado e a oposição sinalizou que lançaria uma candidatura própria caso a emenda da reeleição passasse. Os oposicionistas confiam que estas circunstâncias farão com que Renan se comporte de maneira independente na presidência do Senado. "A candidatura de Renan Calheiros nasceu do PFL e do PSDB. O Planalto queria a reeleição e levamos para ele o suporte que necessitava. O Renan fez conosco um pacto de poder e o Planalto sabe disso", afirmou o líder do PFL na Casa, senador José Agripino Maia (RN). O "pacto de poder", segundo o pefelista, irá se traduzir na participação de todos os líderes partidários, inclusive os oposicionistas, na montagem da pauta de votações da Casa. "Hoje, quem dita a pauta é o governo. Só podemos negociar o conteúdo das matérias", disse o potiguar. A oposição soma formalmente 36 dos 80 votos: dezoito do PFL, treze do PSDB, quatro do PDT e a senadora Heloisa Helena, do PSOL. Mas os pefelistas Roseana Sarney (MA), Edson Lobão (MA) e João Ribeiro (TO) e o tucano Siqueira Campos (TO) votam majoritariamente com o governo. Dos 23 pemedebistas, três votam preferencialmente com a oposição: Sérgio Cabral (RJ), Mão Santa (PI) e Papaleo Paes (AP). O bloco contrário ao Planalto consegue sempre entre 32 e 35 votos contra o governo nas votações mais polêmicas, obrigando os situacionistas a manter sempre um quórum muito alto para a aprovação das propostas. Qualquer vacilação no apoio do PMDB ao governo é fatal para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na liderança do partido, Renan garantiu tranqüilidade para o Executivo e tornou-se a figura central nas votações. "Ele assumiu uma bancada dividida e ganhou credibilidade defendendo o interesse de todos. Isso fez com que conseguisse votos inesperados para o governo", disse o pemedebista Romero Jucá Filho (RR), vice-líder governista. Uma vez presidente do Senado, Renan Calheiros multiplica o seu poder de negociação junto a Lula, mas dificilmente se comportará como um oposicionista. O alagoano não rompe com um governo federal desde Collor. Em 2002, apoiou a candidatura do tucano José Serra à Presidência e indicou um afilhado político para o ministério da Integração Nacional. Proporcionou a Lula em Alagoas sua única derrota para Serra no segundo turno da eleição presidencial. No mês seguinte