Título: Itaú e Bradesco preparam ofensiva rumo ao Oriente
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Fonte: Valor Econômico, 24/03/2008, Finanças, p. C12

Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora: distribuição global Os grandes bancos brasileiros preparam uma verdadeira ofensiva na Ásia e no Oriente Médio. O objetivo é aproveitar a migração da liquidez externa para esses mercados em um momento em que o Brasil goza de boa imagem junto aos investidores. O avanço começa com as corretoras, que ampliam a capacidade de distribuição de papéis brasileiros no exterior. É o passo mais ousado de internacionalização dos bancos brasileiros até agora, embora as instituições não pensem, no momento, em operações comerciais nesses países.

A maior tacada vem do Itaú. O banco vai investir US$ 100 milhões em capital para abrir novas unidades nos mercados asiático e do Oriente Médio. Serão ao menos duas novas corretoras neste ano, uma em Tóquio e outra em Dubai, além de escritórios em Cingapura, Pequim (China) e Abu Dhabi. "Não queremos nos posicionar como um banco global. A estratégia é ser o melhor especialista em Brasil no exterior, é ser um banco brasileiro com distribuição global", diz Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora. Segundo ele, a expansão deve mudar a percepção dos empresários de que apenas os bancos globais têm como vender ações e títulos de dívida de companhias brasileiras no exterior.

Das duas novas corretoras do Itaú, a primeira a ser aberta será a de Dubai, segundo maior emirado dos Emirados Árabes e um dos principais centros financeiros do mundo islâmico. Para abocanhar uma presença maior na região, o banco irá também abrir um escritório em Abu Dhabi, o maior dos Emirados. O teste definitivo sobre a receptividade à instituição brasileira ocorreu em janeiro, quando o Itaú levou para a região representantes da Petrobras, Gafisa, BRMalls e de um fundo de private equity. "Reunimos 60 investidores institucionais da região. A resposta foi muito boa", diz Nishikawa, que garante que o Itaú será a primeira instituição latino-americana a ter presença em Dubai.

Logo depois de Dubai, provavelmente em setembro, o Itaú Securities deverá abrir sua corretora em Tóquio, onde já tem um escritório de representação desde o ano passado. Será, mais uma vez, a primeira da América Latina. O anúncio foi feito a investidores de lá há cerca de duas semanas, em japonês fluente, pelo próprio Nishikawa. Segundo o executivo, o foco no país serão os investidores institucionais. "Os japoneses são muito conservadores. Eles têm US$ 7 trilhões em depósitos que rendem 0,3% ao ano", diz. Na Ásia, a ofensiva do Itaú também inclui a abertura de escritórios em Cingapura e Pequim, que se somarão ao escritório já em operação em Xangai. O foco é também atrair investidores institucionais, em especial os fundos chineses, que agora podem investir fora do país.

O momento é favorável à investida dos bancos brasileiros no exterior. Além do real apreciado, as instituições financeiras não têm tido dificuldade para contratar funcionários. Com a crise que teve início no mercado de hipotecas americano, muitos bancos globais tiveram de encolher para fazer frente aos pesados prejuízos.

O Bradesco também está avançando rumo ao Oriente. O banco está avaliando abrir uma corretora em Dubai, Cingapura ou Hong Kong, diz o vice-presidente responsável pelo BBI (Bradesco Banco de Investimento), José Luiz Acar Pedro. O conselho de administração do Bradesco já autorizou a abertura de uma corretora e ainda não está descartada a idéia de abrir até duas unidades nessas regiões. O objetivo é buscar investidores da região do Oriente Médio e Ásia para comprar ações brasileiras, completa Bernardo Parnes, diretor geral do BBI, que vai viajar para a região na última semana de abril ou primeira semana de maio.

"Não podemos esquecer do poder e liquidez crescentes dos fundos soberanos", diz Parnes. "Liquidez existe, como mostra o IPO do Visa, mas ela está mais seletiva", afirma. Os executivos pretendem que a corretora passe a funcionar 24 horas, operando em diversas regiões do mundo. O Bradesco tem hoje corretoras em Nova York e em Londres.

No Brasil, os planos de expansão da corretora do Bradesco não mudam após a aquisição da Ágora. "As duas empresas têm atividades complementares e, inicialmente, vamos deixá-las separadas", diz Acar. Segundo ele, a Ágora atende a pessoas físicas correntistas de diversos bancos. Tem escala, mas margem menor. Já a Bradesco Corretora atende ao investidor institucional nacional e estrangeiro e também a um varejo mais amplo. Entre as pessoas físicas, só atende as correntistas do Bradesco.

O atual presidente da Bradesco Corretora, Aníbal César Jesus dos Santos, vai comandar a Ágora , no Rio. No seu lugar ficará Luiz Galvão, que acumula também o cargo de responsável pela área de renda variável institucional do BBI. O foco da Ágora é a negociação de ações pela internet (home broker), com R$ 13,5 bilhões desses negócios até agora, o que lhe garante a liderança nesse mercado. O Bradesco disputa o segundo lugar, perto da Título e da Banif, com R$ 5,05 bilhão, R$ 4,98 bilhões e R$ 4,98 bilhões, respectivamente.

Para crescer, o Bradesco está ampliando a presença de "salas de ações" nas agências, onde os clientes podem acessar a internet para vender ou comprar ações. Hoje, há dez dessas salas e o banco pretende abrir mais 30 ainda neste ano.